Ano VIII - Nº 94 - Fevereiro/2002












 

Reforço à cura da leishmaniose

Estudo sugere novo tipo de exame para diagnosticar a doença. Além de mais simples, o método proporciona mais agilidade para a obtenção do resultado

Louisiana Lima

A leishmaniose visceral, doença endêmica em Pernambuco com algumas regiões hiperendêmicas, pode estar com seus dias contados. A tese de doutorado defendida pela professora Aline Chaves Alexandrino, do Departamento de Genética, do Centro de Ciências Biológicas, propõe novas formas de diagnóstico e controle da doença, que atinge homens e cães. O estudo sugere que o diagnóstico laboratorial seja feito através de um teste sorológico (teste de aglutinação direta - DAT) e um teste de genética molecular (reação em cadeia da polimerase - PCR), com extração do DNA do parasita. No experimento realizado, o uso do DAT resultou em 100% de acerto para casos humanos e uma margem mínima de erro para os casos caninos.
O PCR apresentou melhores resultados nos casos caninos que nos humanos. Foram usadas amostras sangüíneas de 74 pacientes de Pernambuco e 110 cães, sendo 60 da Paraíba e 50 de Pernambuco.


Como na leishmaniose visceral os sinais e sintomas podem ser confundidos com os de outras patologias, fazem-se necessárias a rapidez e a precisão do diagnóstico laboratorial. O teste DAT, que utiliza como antígeno o próprio parasita, apresenta a vantagem de poder ser feito no campo, pela utilização da forma liofilizada que pode ser estocada à temperatura ambiente. Além disso, o resultado deste teste é fornecido em, aproximadamente, 18 horas. Já o método PCR, além de poder identificar o parasita no indivíduo que ainda não apresenta sintomas, quando feito de rotina pode fornecer o resultado em cerca de cinco horas. Como vantagem adicional, ambos os testes utilizam a coleta de sangue periférico (como para um hemograma comum) e não a punção de medula óssea, método que, além de doloroso e invasivo, necessita de um especialista para realizá-lo.
TRATAMENTO - O tratamento da leishmaniose visceral humana é hospitalar e deve ser ininterrupto por 20 dias. "Se o paciente pára de tomar a medicação pode ocasionar a resistência do parasita aos remédios", alerta Aline Alexandrino. Ela ressalta que quando a leishmaniose é canina, ocorre um problema adicional.


Uma vez que não há tratamento, o animal com diagnóstico positivo deve ser sacrificado. Como se trata de uma endemia, a pesquisadora salienta que há necessidade de uma tomada de decisão política no que tange à assistência pública de saúde, sob pena de "todo o conhecimento acumulado não resultar na diminuição do número de casos".

Mundo registra 500 mil novos casos da doença ao ano

A leishmaniose visceral, popularmente conhecida como calazar (febre negra), é uma zooantroponose, ou seja, uma enfermidade que acomete o homem e diferentes espécies de mamíferos silvestres e domésticos. A incidência anual de calazar no mundo é de 500 mil novos casos. É uma das co-infecções mais comuns quando se trata de um portador do vírus da Aids. No Brasil, a maior incidência de leishmaniose é no Nordeste, sendo inclusive superior à média geral do país. Só em Pernambuco foram registrados, de 1995 a 2000, 1.174 casos humanos e 9.893 casos de positividade canina.


A transmissão do parasita se dá pela picada da fêmea infectada do inseto vetor, um flebótomo, da espécie Lutzomyia longipalpis. O mosquito é conhecido em Pernambuco como mosquito-prego ou pula-pula e em outros lugares do Brasil por nomes populares como cangalhinha, birigüi, mosquito-palha, asa branca, catuqui, escangalhado e muritinga.


Nos seres humanos, a incubação da doença se dá entre dois e quatro meses. A instalação aguda (mais rápida) é mais freqüente em crianças, já a insidiosa (mais lenta) ocorre mais comumente em adultos. Os sinais e sintomas básicos da leishmaniose são febre vespertina que não cede, aumento do baço, tosse irritante e, às vezes, sangramento nasal. Porém, doenças como esquistossomose, hepatite crônica, cirrose e doença de Chagas aguda podem apresentar os mesmos sintomas. Daí a dificuldade no diagnóstico da doença, que se for feito tardiamente pode ser fatal.