Reforço
à cura da leishmaniose
Estudo sugere novo tipo de exame
para diagnosticar a doença. Além de mais simples,
o método proporciona mais agilidade para a obtenção
do resultado
Louisiana Lima
A leishmaniose visceral, doença
endêmica em Pernambuco com algumas regiões hiperendêmicas,
pode estar com seus dias contados. A tese de doutorado defendida
pela professora Aline Chaves Alexandrino, do Departamento de Genética,
do Centro de Ciências Biológicas, propõe novas
formas de diagnóstico e controle da doença, que
atinge homens e cães. O estudo sugere que o diagnóstico
laboratorial seja feito através de um teste sorológico
(teste de aglutinação direta - DAT) e um teste de
genética molecular (reação em cadeia da polimerase
- PCR), com extração do DNA do parasita. No experimento
realizado, o uso do DAT resultou em 100% de acerto para casos
humanos e uma margem mínima de erro para os casos caninos.
O PCR apresentou melhores resultados nos casos caninos que nos
humanos. Foram usadas amostras sangüíneas de 74 pacientes
de Pernambuco e 110 cães, sendo 60 da Paraíba e
50 de Pernambuco.
Como na leishmaniose visceral os sinais e sintomas podem ser confundidos
com os de outras patologias, fazem-se necessárias a rapidez
e a precisão do diagnóstico laboratorial. O teste
DAT, que utiliza como antígeno o próprio parasita,
apresenta a vantagem de poder ser feito no campo, pela utilização
da forma liofilizada que pode ser estocada à temperatura
ambiente. Além disso, o resultado deste teste é
fornecido em, aproximadamente, 18 horas. Já o método
PCR, além de poder identificar o parasita no indivíduo
que ainda não apresenta sintomas, quando feito de rotina
pode fornecer o resultado em cerca de cinco horas. Como vantagem
adicional, ambos os testes utilizam a coleta de sangue periférico
(como para um hemograma comum) e não a punção
de medula óssea, método que, além de doloroso
e invasivo, necessita de um especialista para realizá-lo.
TRATAMENTO - O tratamento da leishmaniose visceral humana
é hospitalar e deve ser ininterrupto por 20 dias. "Se
o paciente pára de tomar a medicação pode
ocasionar a resistência do parasita aos remédios",
alerta Aline Alexandrino. Ela ressalta que quando a leishmaniose
é canina, ocorre um problema adicional.
Uma vez que não há tratamento, o animal com diagnóstico
positivo deve ser sacrificado. Como se trata de uma endemia, a
pesquisadora salienta que há necessidade de uma tomada
de decisão política no que tange à assistência
pública de saúde, sob pena de "todo o conhecimento
acumulado não resultar na diminuição do número
de casos".
Mundo registra
500 mil novos casos da doença ao ano
A leishmaniose visceral, popularmente
conhecida como calazar (febre negra), é uma zooantroponose,
ou seja, uma enfermidade que acomete o homem e diferentes espécies
de mamíferos silvestres e domésticos. A incidência
anual de calazar no mundo é de 500 mil novos casos. É
uma das co-infecções mais comuns quando se trata
de um portador do vírus da Aids. No Brasil, a maior incidência
de leishmaniose é no Nordeste, sendo inclusive superior
à média geral do país. Só em Pernambuco
foram registrados, de 1995 a 2000, 1.174 casos humanos e 9.893
casos de positividade canina.
A transmissão do parasita se dá pela picada da fêmea
infectada do inseto vetor, um flebótomo, da espécie
Lutzomyia longipalpis. O mosquito é conhecido em Pernambuco
como mosquito-prego ou pula-pula e em outros lugares do Brasil
por nomes populares como cangalhinha, birigüi, mosquito-palha,
asa branca, catuqui, escangalhado e muritinga.
Nos seres humanos, a incubação da doença
se dá entre dois e quatro meses. A instalação
aguda (mais rápida) é mais freqüente em crianças,
já a insidiosa (mais lenta) ocorre mais comumente em adultos.
Os sinais e sintomas básicos da leishmaniose são
febre vespertina que não cede, aumento do baço,
tosse irritante e, às vezes, sangramento nasal. Porém,
doenças como esquistossomose, hepatite crônica, cirrose
e doença de Chagas aguda podem apresentar os mesmos sintomas.
Daí a dificuldade no diagnóstico da doença,
que se for feito tardiamente pode ser fatal.
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