Clínicos
gerais têm dificuldade em diagnosticar a depressão
O Departamento de Psiquiatria avaliou
a forma como médicos residentes de hospitais do Recife
e professores de medicina, que não são psiquiatras,
representam o quadro clínico da depressão. O estudo
foi feito levando-se em conta a dificuldade dos médicos
não psiquiatras em diagnosticar a depressão no atendimento
clínico geral da rede de saúde.
A conclusão da pesquisa é que a grande maioria dos
diagnósticos de depressão se baseia em sintomas
de humor e corporais, a exemplo da anorexia, mas deixam passar,
de forma despercebida, alterações de comportamento
como a ansiedade. Isso faz com que os médicos administrem
medicações de forma incorreta. Para o neuropsiquiatra
Everton Botelho, o diagnóstico da depressão tem
sido feito tomando-se como pressuposto a idéia de que a
depressão é sinônimo de tristeza profunda.
DISTÚRBIO - Em medicina, os procedimentos médicos
que originam danos à saúde são chamados de
iatrogenia. É este fenômeno que está acontecendo
em diagnósticos de depressão realizados no Recife,
de acordo com o neuropsiquiatra. "Fatores como o desleixo
dos pacientes com a aparência, agitação extrema
e sono ou insônia exagerados não têm sido abordados
no diagnóstico da doença, escapando ao olhar do
médico. Nesses casos, os médicos prescrevem tranqüilizantes,
que atenuam a ansiedade, mas não resolvem o distúrbio
bioquímico que causa a depressão. O problema tende,
então, a se agravar", afirma o professor.
De acordo com os pesquisadores, a razão destes erros no
diagnóstico da depressão é que os médicos
não têm como costume elaborar o diagnóstico
com base na comunicação com os pacientes. Assim,
distúrbios que juntos caracterizam a síndrome depressiva
são encarados como problemas isolados.
"A falta de sintonia entre médico e paciente pode
provocar problemas como a diminuição do rendimento
profissional ou diminuição da capacidade de concentração,
que podem ser causados pela depressão, a serem encarados
como uma simples falta de vitaminas", explica Botelho.
O pesquisador afirma que é necessário treinamento
dos médicos para lidar com o quadro complexo da depressão,
uma doença de múltiplas faces, por envolver aspectos
psicológicos, corporais e sociocomportamentais, combinados
de diferentes maneiras e níveis. Outra revelação
da pesquisa foi que os médicos-residentes foram os que
mais se aproximaram do diagnóstico acertado da depressão.
Os médicos residentes possuem um quadro mais amplo e mais
criterioso. "Atribui-se isso à proximidade temporal
que eles têm do curso de graduação, tendo,
por conseqüência, maior domínio de informações
científicas a respeito da doença", constata
Botelho.
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