Ano VIII - Nº 94 - Fevereiro/2002










 

Clínicos gerais têm dificuldade em diagnosticar a depressão

O Departamento de Psiquiatria avaliou a forma como médicos residentes de hospitais do Recife e professores de medicina, que não são psiquiatras, representam o quadro clínico da depressão. O estudo foi feito levando-se em conta a dificuldade dos médicos não psiquiatras em diagnosticar a depressão no atendimento clínico geral da rede de saúde.


A conclusão da pesquisa é que a grande maioria dos diagnósticos de depressão se baseia em sintomas de humor e corporais, a exemplo da anorexia, mas deixam passar, de forma despercebida, alterações de comportamento como a ansiedade. Isso faz com que os médicos administrem medicações de forma incorreta. Para o neuropsiquiatra Everton Botelho, o diagnóstico da depressão tem sido feito tomando-se como pressuposto a idéia de que a depressão é sinônimo de tristeza profunda.


DISTÚRBIO - Em medicina, os procedimentos médicos que originam danos à saúde são chamados de iatrogenia. É este fenômeno que está acontecendo em diagnósticos de depressão realizados no Recife, de acordo com o neuropsiquiatra. "Fatores como o desleixo dos pacientes com a aparência, agitação extrema e sono ou insônia exagerados não têm sido abordados no diagnóstico da doença, escapando ao olhar do médico. Nesses casos, os médicos prescrevem tranqüilizantes, que atenuam a ansiedade, mas não resolvem o distúrbio bioquímico que causa a depressão. O problema tende, então, a se agravar", afirma o professor.


De acordo com os pesquisadores, a razão destes erros no diagnóstico da depressão é que os médicos não têm como costume elaborar o diagnóstico com base na comunicação com os pacientes. Assim, distúrbios que juntos caracterizam a síndrome depressiva são encarados como problemas isolados.
"A falta de sintonia entre médico e paciente pode provocar problemas como a diminuição do rendimento profissional ou diminuição da capacidade de concentração, que podem ser causados pela depressão, a serem encarados como uma simples falta de vitaminas", explica Botelho.
O pesquisador afirma que é necessário treinamento dos médicos para lidar com o quadro complexo da depressão, uma doença de múltiplas faces, por envolver aspectos psicológicos, corporais e sociocomportamentais, combinados de diferentes maneiras e níveis. Outra revelação da pesquisa foi que os médicos-residentes foram os que mais se aproximaram do diagnóstico acertado da depressão.


Os médicos residentes possuem um quadro mais amplo e mais criterioso. "Atribui-se isso à proximidade temporal que eles têm do curso de graduação, tendo, por conseqüência, maior domínio de informações científicas a respeito da doença", constata Botelho.