A história
que surge das escavações
Arqueólogos da UFPE tiveram
participação determinante nas escavações
para desvendar a história da mais antigas sinagogas das
Américas
Clécio
Vidal
Após realizar importantes
descobertas no local onde funcionou a primeira sinagoga das Américas,
no bairro do Recife, arqueólogos da UFPE vão iniciar
as buscas do mais antigo cemitério israelita do continente.
De acordo com o coordenador das pesquisas, Marcos Albuquerque,
o cemitério está localizado, provavelmente, no bairro
dos Coelhos. "Se nós encontrarmos lápides,
teremos informações seguras a respeito das famílias
que aqui viveram e de seu relacionamento com as que fundaram Nova
York ", revela Albuquerque. O arqueólogo afirma que
trabalhos como esse realizados pela Universidade tornam o Recife
uma das cidades das Américas com um maior conhecimento
arqueológico de sua antiga malha urbana.
Segundo relatam os historiadores,
foram os judeus vindos em fuga da Europa que ergueram a sinagoga.
Mais tarde, esses judeus fundaram, nos Estados Unidos, uma colônia
que deu origem a Nova York. Com base nos dados arqueológicos
obtidos, foi feita uma restauração do templo, aberto
para visitas, oficialmente, no último dia 18. "Identificamos
o espaço original da sinagoga como ainda as alterações
realizadas pela interferência dos padres oratorianos que
ocuparam o imóvel após a retirada holandesa",
afirma o pesquisador.
PORTA DA TERRA - Mais uma
porta do passado se abre nos estudos realizados pela Universidade.
Terá início este ano a busca do outro baluarte que
compunha a chamada Porta da Terra, portão da muralha de
proteção do Recife, erguida no período do
governo de Maurício de Nassau, durante o domínio
holandês. A Porta da Terra funcionava como acesso a Olinda,
e acredita-se que está localizada onde hoje é a
Rua do Bom Jesus. Em trabalhos anteriores, os arqueólogos
da UFPE encontraram um dos baluartes desta muralha. "Quando
encontrarmos o segundo, acharemos a Porta", conta Marcos
Albuquerque.
De acordo com Albuquerque, grande
parte do que nós conhecemos hoje como Recife Antigo é
decorrente de alteração das construções
ocorridas a partir de 1913, com influência da arquitetura
francesa. A Rua do Bom Jesus é um dos poucos exemplos de
que realmente foi o Recife Antigo. Os arqueólogos da Universidade
estão estudando a sucessão de construções
que foram feitas desde a fundação da cidade. Mais
de 100 mil fragmentos de peças de louça de uso cotidiano
( material datado desde os primeiros séculos da colonização
até o século XX) foram encontrados até agora.
Quando as pesquisas forem concluídas
vai-se saber como era a distribuição das pessoas,
por classe social, nas ruas do Recife. "Era utilizada, na
cidade, por exemplo, uma cerâmica inglesa chamada Blue Edge.
Esta louça teve uma grande difusão no Brasil. Já
encontramos do Rio Grande do Sul ao Amazonas. Embora seja uma
louça importada da Inglaterra, era muito popular",
diz o pesquisador.
ALFÂNDEGA - Outro projeto
que está em fase de negociação com a prefeitura
é a procura de um arco e de uma ponte holandesa no Pólo
da Alfândega. Marcos Albuquerque acredita que a sociedade
hoje interpreta de outra forma as descobertas arqueológicas.
" Um trecho da muralha do Forte Brum foi achado dentro da
Galeria Ranulpho. O dono da galeria, de livre vontade, construiu
uma proteção de blindex para o achado, além
de colocar iluminação no local. Hoje a própria
muralha é uma obra de arte da galeria.
O passado deixa de ser visto como
relíquia e passa a ser um elo de integração
com o presente", diz Albuquerque. " Na época
em que vivemos, de constante transformação e quebra
de identidade, a reconstituição do passado nos faz
entender as razões de nossa identidade, como ela vai se
construindo ao longo do tempo. É uma forma da sociedade
se encontrar", declara Marcos Albuquerque.
Pioneirismo
na arqueologia histórica
O Departamento de Arqueologia da
UFPE é pioneiro na arqueologia histórica. Iniciada
em 1965, a diferença desta especialidade com relação
aos estudos arqueológicos é que a atenção
deixa de estar voltada somente para a pré-história.
"O objetivo da arqueologia histórica é auxiliar
ao trabalho dos historiadores que normalmente trabalham com documentos,
na reconstituição dos costumes de populações
do período histórico propriamente dito", explica
o arqueólogo Marcos Albuquerque, que foi um dos primeiros
arqueólogos do País a trilhar este caminho. Albuquerque
analisou os vestígios da Feitoria de Cristovão Jacques,
primeiro ponto de desembarque dos europeus em Pernambuco.
A primeira restauração
feita no Brasil com base em pesquisas arqueológicas foi
a recuperação da Igreja de Nossa Senhora da Graça,
em Olinda, nos anos 70, que contou com a colaboração
dos arqueólogos da UFPE. O professor Marcos Albuquerque
também foi o primeiro a utilizar a radiologia para a pesquisa
arqueológica (radiografia com nível de detalhe),
analisando o método de manufatura das cerâmicas dos
sítios pré-históricos tupi-guarani de Araripina,
no Sertão pernambucano.
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