Ano VIII - Nº 95 - Março/2002













 

Alunos salvam acervo histórico

Estudantes da Faculdade de Direito arregaçam as mangas para recuperar e restaurar obras da biblioteca. O trabalho faz parte do projeto Preservação da Memória

Margot Dourado

Mais de 150 mil obras e documentos da Faculdade de Direito vão ser recuperados pelo Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho, da instituição, graças ao projeto Preservação da Memória. O objetivo principal do programa é disponibilizar o material para consulta de alunos, professores e pesquisadores de todo o País.

Pelo o projeto, aprovado no Ministério da Cultura pela Lei do Mecenato, as obras serão identificadas, higienizadas, catalogadas e restauradas. O trabalho será executado pelos historiadores João Monteiro (restauração dos documentos), Josemar Henrique (organização do arquivo) e Vladimir Rodrigues (pesquisa histórica). A maior preocupação dos historiadores é com a precariedade dos livros raros. A biblioteca é uma das poucas a dispor da publicação Saken van Staet en Oor-logh,escrita em 1669 por Lieuwe van Aitzema, em holandês arcaico, que recentemente foi utilizada em uma pesquisa pelo historiador Evaldo Cabral de Mello.

O projeto de organização, catalogação e restauração do acervo deverá ser executado em dois anos. Ainda estão previstas a limpeza das publicações, a organização por critérios de seleção, a pesquisa e a descrição, além da elaboração de um CD-ROM e de fichários para facilitar o acesso dos pesquisadores. A documentação está comprometida pela presença de insetos, poluição, umidade do ambiente e a falta de climatização e o fator tempo.

OBRAS RARAS - Ao todo, 659 livros do acervo são considerados raros. Entre eles, estão Navfragio qve Passov Jorge Dalbuquerque Celho, e Digestiun Vetus Se. Pandecfarvnn Juris Civilis, além de 291 obras em alemão, adquiridas da biblioteca particular de Tobias Barreto, após sua morte, e o volume O Brasil holandês sob o Conde João Maurício de Nassau, de Gaspar Barléu.

O projeto vai receber R$ 395 mil, captados pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, e mais R$ 100 mil, obtidos por meio de uma emenda do Orçamento da União de 2001, apresentada pelo deputado federal Luiz Piauhylino, ex-aluno da Faculdade de Direito.
O dinheiro já conseguido com o Governo Federal será usado na criação de um laboratório para restauração de obras antigas, que ainda não existe no Norte e Nordeste do País, e poderá ser utilizado depois por outras bibliotecas da região.

Ditadura restringiu acesso do público à biblioteca da Faculdade de Direito

A biblioteca foi criada em setembro de 1830 e passou por várias sedes até 1907, quando foi inaugurado o atual prédio da faculdade. Em 1964, durante o regime militar, o acesso à biblioteca foi proibido ao público, ficando restrito a alunos e professores da instituição. Com as Diretas Já, ela foi reaberta.

Das obras consideradas raras que estão catalogadas no acervo geral da Faculdade de Direito consta ainda a primeira edição do livro Prosopopéia, de Bento Teixeira, que faz referências ao Recife do início do século XVII, considerada impossível de se encontrar e, portanto, sem preço. Fazem parte também A Gloriosa Coroa dos Esforçados Religiosos da Companhia de Jesus, de 1642, que narra a história dos jesuítas em terras brasileiras e Os Sermões, do padre Antonio Vieira, de 1658 e Jornada dos Vassalos da Coroa de Portugal, de 1625, escrito por Bertholomeu Guerreiro. Também podem ser encontradas, nos livros de visitação, assinaturas ilustres como a de D. Pedro II, Getúlio Vargas e Agamenon Magalhães.