Ano VIII - Nº 95 - Março/2002












 

Universidade intensifica combate à dengue

Convênio prevê produção de um biolarvicida para uso no combate à dengue. As primeiras pesquisas indicam que o produto é mais eficaz e causa menos danos à saúde

Louisiana Lima

A UFPE está engajada na luta de combate à dengue. Por meio do Departamento de Antibióticos, a instituição firmou convênio com o Instituto de Pesquisa Agropecuária (IPA) para a produção de um larvicida capaz de eliminar as larvas do Aedes aegypti (o mosquito da dengue). O biolarvicida é um produto biológico à base de uma bactéria, o Bacillus thuringiensis israelensis (BTI). Essa bactéria age especificamente sobre as larvas do mosquito e não causa danos nem ao homem, nem ao meio ambiente. Além disso, o produto poderá ser obtido relativamente a baixo custo.

Segundo Christine Lamenha, engenheira química do Departamento de Antibióticos, a Secretaria Estadual de Saúde está interessada no produto, tendo o secretário Guilherme Robalinho já encaminhado um projeto ao Governo Federal para viabilizar uma pequena indústria do biolarvicida aqui em Pernambuco, que produziria o BTI em larga escala. Enquanto esse projeto maior não se concretiza, há possibilidade de se produzir 1.800 litros no IPA, visto que o instituto já produz um bioinseticida que age contra o Culex (mosquito causador da filariose). O Lafepe também está engajado na parte de comercialização. Hoje o próprio departamento já produz 60 litros por semana.

O Departamento de Antibióticos, que fornece a tecnologia, o IPA, que produz o biolarvicida, e o Aggeu Magalhães, responsável pela atividade biológica, são as três instituições responsáveis em monitorar a qualidade do produto. "Os casos de resistência são muito poucos e quase não são comentados na literatura. Já a eficiência do produto é excelente", revela Christine Lamenha. Segundo ela, durante os testes realizados, pôde-se observar um quadro de 100% de mortalidade das larvas em até dois dias de aplicação.
Diante de um quadro de epidemia, a pesquisadora ressalta a importância do biolarvicida.

"Considero um assunto de prioridade porque temos que pensar muito mais no social. Sabemos que os inseticidas químicos não têm sido eficientes. Existem dados que atestam que uma percentagem dos mosquitos já desenvolveu resistência aos fumacês. A vantagem do larvicida biológico é que ele age diretamente sobre a larva. Se podemos aplicar um produto quando o mosquito está em sua fase larval, isso é uma ótima medida preventiva", ensina a pesquisadora.

Sintomas mais comuns da doença

99% dos infectados têm febre, que dura cerca de sete dias. Pode ser branda ou muito alta, dependendo do indivíduo e da força do vírus, da sua virulência

25% apresentam manchas vermelhas em todo o corpo, as chamadas exantemas. Como o vírus se instala também próximo aos vasos, é comum que eles inflamem e fiquem evidentes na pele

50% das vítimas têm sintomas de prostração e indisposição

50% sentem dor atrás do globo ocular

60% sentem dor de cabeça

Pesquisa contesta número de casos

A bióloga Valdete Oliveira, em sua tese de mestrado em Saúde Coletiva, do Centro de Ciências da Saúde, realizou um inquérito soro-epidemiológico do vírus da dengue em uma comunidade de Olinda por meio do exame de inibição da hemoaglutinação (HI), específico para diagnosticar casos de doença. A pesquisa, realizada entre agosto de 1999 e janeiro de 2000, constatou que mais de 50% da população estudada já teve dengue, enquanto a Secretaria de Saúde de Olinda só havia notificado 1% da população.

Para Rosângela Coelho, os casos divulgados pela Secretaria de Saúde são subestimados porque algumas pessoas normalmente não procuram os médicos em casos clássicos de dengue e também porque não é realizado o teste específico para diagnosticar a doença. "Além disso, esses dados que a secretaria lança são, normalmente, dos casos confirmados", completa a professora.

Como existem tipos diferentes de vírus causadores da dengue, a pessoa infectada só adquire imunidade à variedade que adquiriu. A professora alerta para o fato de que pessoas expostas a um sorotipo estão mais vulneráveis a desenvolver a forma hemorrágica da doença: "Se temos esses dados, devemos ter um maior cuidado com essa população, sendo, portanto os inquéritos soroepidemiológicos muito importantes".