Universidade intensifica
combate à dengue
Convênio prevê produção
de um biolarvicida para uso no combate à dengue. As primeiras
pesquisas indicam que o produto é mais eficaz e causa menos
danos à saúde
Louisiana Lima
A UFPE está engajada na luta
de combate à dengue. Por meio do Departamento de Antibióticos,
a instituição firmou convênio com o Instituto
de Pesquisa Agropecuária (IPA) para a produção
de um larvicida capaz de eliminar as larvas do Aedes aegypti (o
mosquito da dengue). O biolarvicida é um produto biológico
à base de uma bactéria, o Bacillus thuringiensis
israelensis (BTI). Essa bactéria age especificamente sobre
as larvas do mosquito e não causa danos nem ao homem, nem
ao meio ambiente. Além disso, o produto poderá ser
obtido relativamente a baixo custo.
Segundo Christine Lamenha, engenheira
química do Departamento de Antibióticos, a Secretaria
Estadual de Saúde está interessada no produto, tendo
o secretário Guilherme Robalinho já encaminhado
um projeto ao Governo Federal para viabilizar uma pequena indústria
do biolarvicida aqui em Pernambuco, que produziria o BTI em larga
escala. Enquanto esse projeto maior não se concretiza,
há possibilidade de se produzir 1.800 litros no IPA, visto
que o instituto já produz um bioinseticida que age contra
o Culex (mosquito causador da filariose). O Lafepe também
está engajado na parte de comercialização.
Hoje o próprio departamento já produz 60 litros
por semana.
O Departamento de Antibióticos,
que fornece a tecnologia, o IPA, que produz o biolarvicida, e
o Aggeu Magalhães, responsável pela atividade biológica,
são as três instituições responsáveis
em monitorar a qualidade do produto. "Os casos de resistência
são muito poucos e quase não são comentados
na literatura. Já a eficiência do produto é
excelente", revela Christine Lamenha. Segundo ela, durante
os testes realizados, pôde-se observar um quadro de 100%
de mortalidade das larvas em até dois dias de aplicação.
Diante de um quadro de epidemia, a pesquisadora ressalta a importância
do biolarvicida.
"Considero um assunto de prioridade
porque temos que pensar muito mais no social. Sabemos que os inseticidas
químicos não têm sido eficientes. Existem
dados que atestam que uma percentagem dos mosquitos já
desenvolveu resistência aos fumacês. A vantagem do
larvicida biológico é que ele age diretamente sobre
a larva. Se podemos aplicar um produto quando o mosquito está
em sua fase larval, isso é uma ótima medida preventiva",
ensina a pesquisadora.
Sintomas mais
comuns da doença
99% dos infectados têm febre,
que dura cerca de sete dias. Pode ser branda ou muito alta, dependendo
do indivíduo e da força do vírus, da sua
virulência
25% apresentam manchas vermelhas
em todo o corpo, as chamadas exantemas. Como o vírus se
instala também próximo aos vasos, é comum
que eles inflamem e fiquem evidentes na pele
50% das vítimas têm
sintomas de prostração e indisposição
50% sentem dor atrás do globo
ocular
60% sentem dor de cabeça
Pesquisa
contesta número de casos
A bióloga Valdete Oliveira,
em sua tese de mestrado em Saúde Coletiva, do Centro de
Ciências da Saúde, realizou um inquérito soro-epidemiológico
do vírus da dengue em uma comunidade de Olinda por meio
do exame de inibição da hemoaglutinação
(HI), específico para diagnosticar casos de doença.
A pesquisa, realizada entre agosto de 1999 e janeiro de 2000,
constatou que mais de 50% da população estudada
já teve dengue, enquanto a Secretaria de Saúde de
Olinda só havia notificado 1% da população.
Para Rosângela Coelho, os casos
divulgados pela Secretaria de Saúde são subestimados
porque algumas pessoas normalmente não procuram os médicos
em casos clássicos de dengue e também porque não
é realizado o teste específico para diagnosticar
a doença. "Além disso, esses dados que a secretaria
lança são, normalmente, dos casos confirmados",
completa a professora.
Como existem tipos diferentes de
vírus causadores da dengue, a pessoa infectada só
adquire imunidade à variedade que adquiriu. A professora
alerta para o fato de que pessoas expostas a um sorotipo estão
mais vulneráveis a desenvolver a forma hemorrágica
da doença: "Se temos esses dados, devemos ter um maior
cuidado com essa população, sendo, portanto os inquéritos
soroepidemiológicos muito importantes".
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