Estudo analisa
microorganismos que mantêm o equilíbrio na Mata Atlântica
Os
mixomicetos despertam o interesse dos pesquisadores desde 1968.
Esses seresimperceptíveis atuam como biorremediadores,
agindo sobre substâncias que poluem o ar
Louisiana Lima
Existe um grupo de seres vivos que não percebemos quando entramos numa
mata, mas que está lá. Ele é composto por organismos conhecidos
como mixomicetos, que na fase plasmodial se assemelham a células
gigantes multinucleadas que se deslocam e vão englobando fungos,
bactérias e microalgas existentes em ambiente úmidos e ao esporular
formam uma verdadeira “floresta invisível” de esporocarpos.
Esses organismos são objeto de pesquisa na UFPE desde 1968, com
o professor Geraldo Mariz, do Departamento de Botânica do Centro
de Ciências Biológicas (CCB). Em 1970, a professora Laíse Holanda,
também de Botânica, entrou na pesquisa e continua estudando os microorganismos
até hoje.Atualmente, pesquisas foram desenvolvidas no Refúgio Ecológico Charles
Darwin, situado em Igarassu. E o resultado é surpreendente: das
800 espécies de mixomicetos existentes, 105 são encontrados na mata
atlântica de Pernambuco e, destes, 50 no Refúgio Charles Darwin.
A bióloga revela que, no seu ambiente natural, os mixomicetos produzem
substâncias que podem inibir ou matar bactéria e fungos. Essas substâncias,
após pesquisas em laboratórios, poderiam propiciar a fabricação
de novos e mais eficientes medicamentos. Em pesquisas laboratoriais,
pôde-se observar também que duas espécies desses microorganismos
possuem atividade antitumoral (inibem o desenvolvimento de células
cancerosas) e outras têm atividade contra o vírus HPV. Com relação
à importância dos mixomicetos para o equilíbrio do meio ambiente,
Laíse Holanda explica que eles podem funcionar como biorremediadores,
atuando sobre substâncias que estão poluindo o ambiente, bem como
de indicadores de poluição atmosférica.
No
ano passado, continuando o levantamento das espécies que compõem
a mata atlântica do Estado, Laíse Holanda conseguiu o apoio de duas
importantes instituições: a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza
e a Fundação McArthur, que ofereceram o financiamento para a compra
de equipamentos, material de consumo, uma bolsa de pesquisa, transporte
da equipe e o protótipo da cartilha A
Floresta que você não vê.
Cartilha difunde importância dos minúsculos e desconhecidos
seres
Um dos resultados da pesquisa de Laíse Holanda, professora do Departamento
de Botânica, é uma cartilha de 16 páginas intitulada A
Floresta que você não vê. O personagem
principal do livreto é Mixo, que responde, em linguagem
simples e divertida, questões como quem sou eu? Onde vivo? Como me relaciono com os outros seres da floresta?
Para fazer a cartilha, a pesquisadora contou com a colaboração
do irmão, o cartunista Laílson, que fez toda a parte gráfica e
adaptou a linguagem científica.
A intenção da bióloga é divulgar esses seres que têm grande
importância no equilíbrio ecológico de nossas matas, mas não são
sequer trabalhados nas escolas. “Quero chamar a atenção
para esses seres pequenos que as pessoas normalmente desconhecem
porque enchem a vista com as coisas grandes, visto que são trabalhadas
para preservar o macro. Porém, se o micro não estiver presente,
o macro não sobrevive”, completa.
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