Ano VIII - Nº 99 - Abril/2002












 

Estudo analisa microorganismos que mantêm o equilíbrio na Mata Atlântica

Os mixomicetos despertam o interesse dos pesquisadores desde 1968. Esses seresimperceptíveis atuam como biorremediadores, agindo sobre substâncias que poluem o ar

Louisiana Lima 

Existe um grupo de seres vivos que não percebemos quando entramos numa mata, mas que está lá. Ele é composto por organismos conhecidos como mixomicetos, que na fase plasmodial se assemelham a células gigantes multinucleadas que se deslocam e vão englobando fungos, bactérias e microalgas existentes em ambiente úmidos e ao esporular formam uma verdadeira “floresta invisível” de esporocarpos. Esses organismos são objeto de pesquisa na UFPE desde 1968, com o professor Geraldo Mariz, do Departamento de Botânica do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Em 1970, a professora Laíse Holanda, também de Botânica, entrou na pesquisa e continua estudando os microorganismos até hoje.

Atualmente, pesquisas foram desenvolvidas no Refúgio Ecológico Charles Darwin, situado em Igarassu. E o resultado é surpreendente: das 800 espécies de mixomicetos existentes, 105 são encontrados na mata atlântica de Pernambuco e, destes, 50 no Refúgio Charles Darwin. A bióloga revela que, no seu ambiente natural, os mixomicetos produzem substâncias que podem inibir ou matar bactéria e fungos. Essas substâncias, após pesquisas em laboratórios, poderiam propiciar a fabricação de novos e mais eficientes medicamentos. Em pesquisas laboratoriais, pôde-se observar também que duas espécies desses microorganismos possuem atividade antitumoral (inibem o desenvolvimento de células cancerosas) e outras têm atividade contra o vírus HPV. Com relação à importância dos mixomicetos para o equilíbrio do meio ambiente, Laíse Holanda explica que eles podem funcionar como biorremediadores, atuando sobre substâncias que estão poluindo o ambiente, bem como de indicadores de poluição atmosférica.

No ano passado, continuando o levantamento das espécies que compõem a mata atlântica do Estado, Laíse Holanda conseguiu o apoio de duas importantes instituições: a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e a Fundação McArthur, que ofereceram o financiamento para a compra de equipamentos, material de consumo, uma bolsa de pesquisa, transporte da equipe e o protótipo da cartilha A Floresta que você não vê.

 

Cartilha difunde importância dos minúsculos e desconhecidos seres

 

Um dos resultados da pesquisa de Laíse Holanda, professora do Departamento de Botânica, é uma cartilha de 16 páginas intitulada A Floresta que você não vê. O personagem principal do livreto é Mixo, que responde, em linguagem simples e divertida, questões como quem sou eu?  Onde vivo? Como me relaciono com os outros seres da floresta? Para fazer a cartilha, a pesquisadora contou com a colaboração do irmão, o cartunista Laílson, que fez toda a parte gráfica e adaptou a linguagem científica.

A intenção da bióloga é divulgar esses seres que têm grande importância no equilíbrio ecológico de nossas matas, mas não são sequer trabalhados nas escolas. “Quero chamar a atenção para esses seres pequenos que as pessoas normalmente desconhecem porque enchem a vista com as coisas grandes, visto que são trabalhadas para preservar o macro. Porém, se o micro não estiver presente, o macro não sobrevive”, completa.