Ano VIII - Nº 99 - Abril/2002












 

Esgoto é tratado e reaproveitado
Equipe de professores e alunos implanta projeto na Estação de Tratamento de Esgoto da Mangueira. A idéia é melhorar o tratamento da água com custo reduzido e com segurança tecnológica

Juliana Holanda

Para onde vai o esgoto que é produzido em sua casa? A maioria dos recifenses não sabe, mas a maior parte do esgoto da cidade é enviada para os rios sem nenhum tipo de tratamento. Preocupada com a questão do saneamento, uma equipe de 30 professores e alunos da UFPE, com participação da UFRPE e CEFET-PE, está realizando um trabalho pioneiro no estado.  

Três pesquisas relacionadas ao tratamento de esgoto estão sendo feitas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Mangueira. A estação coleta e realiza o tratamento da água utilizada por 18 mil habitantes dos bairros da Mangueira, San Martin e Mustardinha. O objetivo da equipe é fazer o tratamento correto da água para evitar o impacto ambiental e estudar meios de reutilizar a água tratada.  

De acordo com Mario Kato, coordenador das pesquisas, pouco mais de 15% do esgoto do Recife é tratado. Para ele, o problema pode ser fácil de resolver. ·Os esgotos são responsáveis por problemas de saúde, poluição, contaminação, mau-cheiro e estética. Se fossem investidos cerca de R$ 200,00 por habitante, o problema poderia ser resolvido ou minimizado enormemente·, afirma.

Inaugurada em 1997, a ETE Mangueira está sendo monitorada pela UFPE e tem convênio com a Compesa e com a URB Recife. Em 2000, o grupo conseguiu implantar uma unidade piloto de tratamento anaeróbico, sem oxigênio, e com um tratamento biológico (com uso das bactérias).  ·Trabalhamos com reatores anaeróbicos em escala piloto com o objetivo de melhorar a eficiência do tratamento em escala real. Na ETE Mangueira, o tratamento já é anaeróbico·, explica o coordenador da pesquisa, Mario Kato.  

Para Kato, a cidade do Recife é muito poluída porque tem pouco tratamento de esgoto. ·Nosso objetivo é oferecer tecnologia em larga escala, com custo reduzido e com segurança tecnológica. A idéia é fazer a adaptação na prática·, conta.·Nós verificamos que a estação é eficiente e agüenta uma carga de poluição muito alta, com o custo bem mais barato comparado com estações convencionais·, assegura.  

Kato também explica que a questão do material poluente é relativa. ·Depende do uso da água. Por exemplo, se a água for utilizada na plantação (ler matéria abaixo), não precisaremos remover nutrientes, como nitrogênio e fósforo, porque a planta precisa deles. Dominando a tecnologia, você pode escolher o que quer remover·, analisa.  

ESGOTO · O esgoto é formado por 99,9% de água e 0,1% de poluição. Só que esta poluição é tão concentrada que pode causar desastres ecológicos. Quando o esgoto é lançado na natureza, sem nenhum tratamento prévio, a decomposição ocorre de forma mais lenta e causa prejuízos à saúde e ao meio ambiente.  

É para agilizar este processo que existem as estações de tratamento. Uma estação é uma imitação do que ocorre na natureza. É um conjunto de unidades, onde se acelera o processo de degradação de maneira controlável, sem causar problemas para o ambiente.    

Água e dejetos tratados dão bons resultados na agricultura  

Um dos projetos realizados na Estação Mangueira é reutilizar a água tratada na agricultura. Feita em escala piloto, a horta ocupa uma área de 800 metros quadrados. Lá são plantados milho e acerola. O objetivo inicial de economizar água trouxe como resultado o aumento de produtividade nas plantações.  

O coordenador Mario Kato explica que jogar o esgoto tratado no rio é um desperdício. ·Essa água já tem nutrientes que são necessários à agricultura·, afirma. ·Qualquer planta frutífera pode ter este tipo de irrigação, desde que com manejo adequado, com o esgoto tratado dosado em quantidade e período certos·, conta.  

A pesquisa fez uma experiência utilizando água de esgoto tratado e água de abastecimento que vem da Compesa. Os pesquisadores confirmaram que as plantas regadas com a água de esgoto desenvolveram-se mais e produziram mais frutos. Daniel Teixeira, 18 anos, trabalha na horta da estação. Ele mora no bairro da Mangueira e está feliz por participar de um projeto que traz benefícios para a comunidade. ·Estou fazendo algo produtivo·, declara.