Esgoto
é tratado e reaproveitado
Equipe de professores e alunos implanta projeto na Estação de
Tratamento de Esgoto da Mangueira. A idéia é melhorar o tratamento
da água com custo reduzido e com segurança tecnológica
Juliana Holanda
Para onde vai o esgoto que é produzido
em sua casa? A maioria dos recifenses não sabe, mas a maior parte
do esgoto da cidade é enviada para os rios sem nenhum tipo de
tratamento. Preocupada com a questão do saneamento, uma equipe
de 30 professores e alunos da UFPE, com participação da UFRPE
e CEFET-PE, está realizando um trabalho pioneiro no estado.
Três pesquisas relacionadas ao tratamento
de esgoto estão sendo feitas na Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE) da Mangueira. A estação coleta e realiza o tratamento da
água utilizada por 18 mil habitantes dos bairros da Mangueira,
San Martin e Mustardinha. O objetivo da equipe é fazer o tratamento
correto da água para evitar o impacto ambiental e estudar meios
de reutilizar a água tratada.
De acordo com Mario Kato, coordenador
das pesquisas, pouco mais de 15% do esgoto do Recife é tratado.
Para ele, o problema pode ser fácil de resolver. ·Os esgotos são
responsáveis por problemas de saúde, poluição, contaminação, mau-cheiro
e estética. Se fossem investidos cerca de R$ 200,00 por habitante,
o problema poderia ser resolvido ou minimizado enormemente·, afirma.
Inaugurada em 1997, a ETE Mangueira
está sendo monitorada pela UFPE e tem convênio com a Compesa e
com a URB Recife. Em 2000, o grupo conseguiu implantar uma unidade
piloto de tratamento anaeróbico, sem oxigênio, e com um tratamento
biológico (com uso das bactérias). ·Trabalhamos com reatores
anaeróbicos em escala piloto com o objetivo de melhorar a eficiência
do tratamento em escala real. Na ETE Mangueira, o tratamento já
é anaeróbico·, explica o coordenador da pesquisa, Mario Kato.
Para Kato, a cidade do Recife é muito
poluída porque tem pouco tratamento de esgoto. ·Nosso objetivo
é oferecer tecnologia em larga escala, com custo reduzido e com
segurança tecnológica. A idéia é fazer a adaptação na prática·,
conta.·Nós verificamos que a estação é eficiente e agüenta uma
carga de poluição muito alta, com o custo bem mais barato comparado
com estações convencionais·, assegura.
Kato também explica que a questão
do material poluente é relativa. ·Depende do uso da água. Por
exemplo, se a água for utilizada na plantação (ler matéria abaixo),
não precisaremos remover nutrientes, como nitrogênio e fósforo,
porque a planta precisa deles. Dominando a tecnologia, você pode
escolher o que quer remover·, analisa.
ESGOTO · O esgoto é formado
por 99,9% de água e 0,1% de poluição. Só que esta poluição é tão
concentrada que pode causar desastres ecológicos. Quando o esgoto
é lançado na natureza, sem nenhum tratamento prévio, a decomposição
ocorre de forma mais lenta e causa prejuízos à saúde e ao meio
ambiente.
É para agilizar este processo que
existem as estações de tratamento. Uma estação é uma imitação
do que ocorre na natureza. É um conjunto de unidades, onde se
acelera o processo de degradação de maneira controlável, sem causar
problemas para o ambiente.
Água e dejetos
tratados dão bons resultados na agricultura
Um dos projetos realizados na Estação
Mangueira é reutilizar a água tratada na agricultura. Feita em
escala piloto, a horta ocupa uma área de 800 metros quadrados.
Lá são plantados milho e acerola. O objetivo inicial de economizar
água trouxe como resultado o aumento de produtividade nas plantações.
O coordenador Mario Kato explica
que jogar o esgoto tratado no rio é um desperdício. ·Essa água
já tem nutrientes que são necessários à agricultura·, afirma.
·Qualquer planta frutífera pode ter este tipo de irrigação, desde
que com manejo adequado, com o esgoto tratado dosado em quantidade
e período certos·, conta.
A pesquisa fez uma experiência utilizando
água de esgoto tratado e água de abastecimento que vem da Compesa.
Os pesquisadores confirmaram que as plantas regadas com a água
de esgoto desenvolveram-se mais e produziram mais frutos. Daniel
Teixeira, 18 anos, trabalha na horta da estação. Ele mora no bairro
da Mangueira e está feliz por participar de um projeto que traz
benefícios para a comunidade. ·Estou fazendo algo produtivo·,
declara.
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