Ano VIII - Nº 99 - Abril/2002












 

Pesquisa levanta riscos da atividade dos frentistas

Pesquisa, inédita, sobre a saúde dos frentistas de postos de gasolina do Grande Recife constatou que esses profissionais apresentam comprometimento hepático (24,9%) e secura nos olhos (39,6%). Apenas 1% deles possui alteração neurológica, como dificuldade de concentração ou para dormir, contrariando a literatura médica. Esses problemas são resultantes da exposição à gasolina e ao álcool, derivados de petróleo causadores de alterações orgânicas.

O estudo, realizado pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE (Nepai), no ano passado, com financiamento dos conselhos nacionais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de Petróleo, também confirmou ser essa uma profissão bastante restrita aos homens, que totalizaram 286 contra 28 mulheres.

De acordo com a coordenadora do Nepai, Sylvia Lemos Hinrichsen, as alterações hepáticas encontradas serão aprofundadas na próxima etapa da pesquisa, pois há outros fatores a serem afastados para se ter certeza que esses distúrbios são conseqüentes da exposição aos combustíveis. “Embora a literatura médica mostre que a exposição a esses produtos cause comprometimento ao fígado, é preciso considerar que estamos numa área endêmica de esquistossomose, o que pode ter influenciado no resultado. Por isso, vamos estudar a casuidade desse mal entre eles”, afirma Sylvia Hinrichsen.

Outro questionamento a ser respondido no futuro é a razão desses trabalhadores apresentarem um índice baixo de alteração neurológica, quando a literatura médica descreve que esse percentual é elevado. Serão verificados, ainda, o nível de saúde ocupacional dos frentistas e o cumprimento de normas de biossegu-rança.

Durante o estudo, os participantes foram submetidos a exame clínico, neurológico, laboratorial e oftalmológico no Hospital das Clínicas, no laboratório Cerpe e na Fundação Altino Ventura.

A pesquisa também levantou o perfil social e de comportamento dos trabalhadores. Nos 55 postos visitados, a idade média dos frentistas é de 29,5 anos. Cinqüenta e um deles são fumantes e todos negaram o alcoolismo crônico, afirmando beberem socialmente (64%). 10% trabalhavam no setor há menos de três meses, sendo este o primeiro emprego, na época da entrevista.