Ano VIII - Nº 104 - Setembro/2002










 

Pesquisa premiada compara cooperativismo Brasil-Canadá

O espírito empreendedor do cooperativismo se mostra um fator que ajuda os países a competir no mundo globalizado, independentemente de serem ou não desenvolvidos. Essa é uma das constatações a que chegou a tese O Cooperativismo Agrícola em Questão: um estudo comparativo Brasil-Canadá, ganhadora do Concurso Nelson Chaves de Teses sobre o Norte e o Nordeste brasileiros para os Melhores nas Áreas de Antropologia e Sociologia, oferecido pela Fundação Joaquim Nabuco. A pesquisa de doutorado, realizada na UFPE pela professora de cooperativismo Maria Luiza Lins Pires, analisa a correspondência entre prática e projeto nas cooperativas e também a capacidade delas de atender às exigências do mercado, no que se refere ao desenvolvimento tecnológico e ao controle de qualidade de produtos.

No seu trabalho, a socióloga, que atua no Departamento de Educação da UFRPE, compara a Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia, produtora de frutas no Vale do São Francisco, com a Cooperativa de Produtores de Sirop d’Erable (um tipo de xarope extraído de uma árvore), localizada na cidade canadense do Quebec. Por meio da pesquisa, a professora concluiu que o fato de uma cooperativa localizar-se num lugar pobre não é decisivo para que ela fracasse.

A prosperidade, segundo concluiu Maria Luiza Pires, é resultado da mistura que o cooperativismo proporciona entre o espírito empreendedor – capacidade de organização dos produtores em torno de seus objetivos e de adaptação a demandas específicas e a realidades distintas – e a participação democrática dos membros nas decisões de produção. “A satisfação dos membros é priorizada e não somente o lucro pelo lucro”, afirma Maria Luiza Pires.

Segundo a pesquisadora, as duas cooperativas possuem mais pontos em comum do que contrários, apesar dos diferentes contextos socioeconômicos em que estão inseridas. “Ambas se originaram como instrumento de organização da população para enfrentar adversidades sociais no que dizem respeito à utilização de tecnologia, à agregação de valor às mercadorias e à comercialização em diversos nichos de mercado”, afirma.

Maria Luiza explica que os habitantes do Quebec, inicialmente, vendiam o sirop d’erable em forma de tabletes de açúcar. Os Estados Unidos os compravam e revendiam como geléias, sachês e outros subprodutos, conseguindo um lucro muito superior. Ao constituírem um sistema de crédito organizado de maneira cooperativa, os canadenses diversificaram a produção e puderam vencer a concorrência americana.

No caso da Cooperativa Juazeiro da Bahia, os associados eram egressos de outra cooperativa agrícola. “Apesar de levarem consigo a experiência adquirida, os integrantes ficaram soltos, sem estrutura para produzir. Esta situação, ao invés de prejudicá-los, os impulsionou a instituir nova cooperativa, buscando superar os defeitos da anterior, fazendo-os ficar mais criteriosos e participativos”, diz a socióloga.