Pesquisa
premiada compara cooperativismo Brasil-Canadá
O espírito empreendedor do cooperativismo se mostra um fator
que ajuda os países a competir no mundo globalizado, independentemente
de serem ou não desenvolvidos. Essa é uma das constatações
a que chegou a tese O Cooperativismo Agrícola em Questão:
um estudo comparativo Brasil-Canadá, ganhadora do Concurso
Nelson Chaves de Teses sobre o Norte e o Nordeste brasileiros
para os Melhores nas Áreas de Antropologia e Sociologia,
oferecido pela Fundação Joaquim Nabuco. A pesquisa
de doutorado, realizada na UFPE pela professora de cooperativismo
Maria Luiza Lins Pires, analisa a correspondência entre
prática e projeto nas cooperativas e também a capacidade
delas de atender às exigências do mercado, no que
se refere ao desenvolvimento tecnológico e ao controle
de qualidade de produtos.
No seu trabalho, a socióloga,
que atua no Departamento de Educação da UFRPE, compara
a Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia, produtora de
frutas no Vale do São Francisco, com a Cooperativa de Produtores
de Sirop d’Erable (um tipo de xarope extraído de
uma árvore), localizada na cidade canadense do Quebec.
Por meio da pesquisa, a professora concluiu que o fato de uma
cooperativa localizar-se num lugar pobre não é decisivo
para que ela fracasse.
A prosperidade, segundo concluiu
Maria Luiza Pires, é resultado da mistura que o cooperativismo
proporciona entre o espírito empreendedor – capacidade
de organização dos produtores em torno de seus objetivos
e de adaptação a demandas específicas e a
realidades distintas – e a participação democrática
dos membros nas decisões de produção. “A
satisfação dos membros é priorizada e não
somente o lucro pelo lucro”, afirma Maria Luiza Pires.
Segundo a pesquisadora, as duas cooperativas
possuem mais pontos em comum do que contrários, apesar
dos diferentes contextos socioeconômicos em que estão
inseridas. “Ambas se originaram como instrumento de organização
da população para enfrentar adversidades sociais
no que dizem respeito à utilização de tecnologia,
à agregação de valor às mercadorias
e à comercialização em diversos nichos de
mercado”, afirma.
Maria Luiza explica que os habitantes
do Quebec, inicialmente, vendiam o sirop d’erable em forma
de tabletes de açúcar. Os Estados Unidos os compravam
e revendiam como geléias, sachês e outros subprodutos,
conseguindo um lucro muito superior. Ao constituírem um
sistema de crédito organizado de maneira cooperativa, os
canadenses diversificaram a produção e puderam vencer
a concorrência americana.
No caso da Cooperativa Juazeiro da
Bahia, os associados eram egressos de outra cooperativa agrícola.
“Apesar de levarem consigo a experiência adquirida,
os integrantes ficaram soltos, sem estrutura para produzir. Esta
situação, ao invés de prejudicá-los,
os impulsionou a instituir nova cooperativa, buscando superar
os defeitos da anterior, fazendo-os ficar mais criteriosos e participativos”,
diz a socióloga.
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