Ano VIII - Nº 105 - Outubro/2002














 

Turismo interiorano está em alta

Estudantes de Turismo da UFPE estão levantando as rotas alternativas nas cidades do Interior do Estado e oferecem serviços para prefeituras diagnosticar o potencial turístico

Clécio Vidal

Alunos dos 1o e 2o períodos do curso de Turismo da UFPE estão mobilizados para causar um “êxodo urbano” na Região Metropolitana do Recife. Não se trata de uma revolta, mas sim da análise de rotas de turismo alternativas para o Grande Recife, que revelem o potencial da zona rural e de cidades do interior. A iniciativa gerou um convênio com a Prefeitura de Bom Conselho (Agreste), para avaliação da oferta turística da cidade. Os dados obtidos são apresentados, semestralmente, na Feira do Empreendedor Turístico e Hoteleiro, e divulgados no site www.feth.kit.net

O trabalho dos estudantes consiste em elaborar diagnósticos com informações sobre acessibilidade, distâncias, dificuldades de sinalização e roupas dos atendentes entre outros itens, sempre verificando a melhor forma de oferecer conforto e de reduzir os impactos do turismo sobre a natureza. Eles orientaram a administração de Bom Conselho sobre a necessidade de melhorar a oferta de transporte e de estimular o turismo ecológico além do religioso, já praticado.

A coordenadora do projeto, a professora Gislane Rocha, explica que o trabalho (realizado de forma pioneira com alunos recém-chegados ao curso de Turismo da UFPE) é um impulso para a realização de pesquisas que sistematizem dados sobre a zona rural, que vem se tornando foco do interesse turístico, principalmente de visitantes estrangeiros.

RARIDADE – Uma das raridades encontradas, por exemplo, no sítio Embaúba, que fica no município de Cabo de Santo Agostinho, é a presença de 107 espécies de aves concentradas em apenas dez hectares. “Uma coisa dessas não pode ser vista em lugar algum da Europa. Por isso, o sítio Embaúba é visitado principalmente por alemães e ingleses, em particular, estudantes de Ecologia”, explica.

De acordo com Tércio Netto, guia turístico e dono do sítio Embaúba, esse lugar propicia a ecologistas e a turismólogos a chance de estudar formas de aliar a satisfação dos visitantes (construção de pousadas, por exemplo) à manutenção do equilíbrio ecológico, por meio do controle da abertura de trilhas e da revitalização da mata nativa.

A professora diz que o que vem atraindo os turistas é a possibilidade de eles se “transportarem” para um cotidiano completamente distinto do deles. “Eles querem entrar em contato com atividades simples como a ordenha de leite ou o trabalho em barro e saber como elas se inserem na vivência das pessoas naturais dessas regiões”, diz. Uma das estratégias detectadas pelos estudantes para aumentar o potencial turístico dessas regiões é proporcionar aos visitantes a chance de aproveitar o clima agradável e a bonita paisagem para ter aulas de desenho e pintura em cerâmica.

O artista plástico Renildo Silva, por exemplo, ensina a desenhar estimulando a pessoa a utilizar o lado direito do cérebro, que trabalha a associação inconsciente das formas. “A preocupação excessiva com a lógica, na hora de desenhar, trava o desempenho”, conta. Em outras oficinas, se aprende a andar em pernas-de-pau e a fazer o pau-de-chuva, instrumento que os índios tocavam durante rituais para chamar a chuva, e que produz um som semelhante a ela.

A aluna Janine Ferreira afirma que esta forma de turismo é cativante. “Aqui podemos fugir da rotina urbana e praticar atividades simples, porém estimulantes”, diz. Os estudantes da Universidade visitam também lugares fora de Pernambuco como o Vale do Catimbau – que fica na Paraíba e é conhecido pela arte rupestre – e Pirambu, em Aracaju, onde biólogos ajudam tartarugas marinhas a se reproduzir.

Os alunos também estão sugerindo roteiros de turismo para a zona urbana em esferas como a do turismo religioso, de saúde (que verifica a possibilidade do turista encontrar atividades como o Reiki e a meditação) e de manifestações populares. A aluna Leilane Pinto do 1o período construiu um roteiro com visitas a comunidades como Bomba do Hemetério e Santo Amaro para assistir a espetáculos como o Boi Teimoso, os Caboclinhos Canindés e o Pastoril Estrela D’alva.