Ano VIII - Nº 105 - Outubro/2002












 

Grampo telefônico pode ser evitado a partir dos raios caóticos do laser

Estudos feitos no Laboratório de Sistemas Dinâmicos, do Departamento de Física, revelam que o uso sincronizado dos lasers caóticos podem ser usados para evitar a escuta telefônica

Clécio Vidal

O caos como forma de garantir segurança nas telecomunicações é objeto de estudo dos pesquisadores do Laboratório de Sistemas Dinâmicos, do Departamento de Física da UFPE. Entre os pesquisadores está Hugo Leonardo Davi de Souza Cavalcante que, em seu doutorado, analisa a dinâmica caótica de lasers feitos com diodos (dispositivos eletrônicos usados para retificar a corrente elétrica). A sincronização de lasers caóticos pode ser aplicada para evitar interceptações de ligações telefônicas.

De acordo com o físico, os lasers surgem quando uma corrente elétrica passa por um cristal semicondutor no interior do qual existem elétrons (um dos tipos de partículas que compõem os átomos). Esses elétrons são excitados pela corrente e retornam ao seu estado normal, situação que se repete enquanto a eletricidade flui no cristal. “Ao voltarem ao estado normal, os elétrons emitem a energia a mais captada em forma de radiação, dando origem ao laser”, explica o pesquisador.

Os raios podem ter uma intensidade constante, periódica ou caótica (desordenada). E segundo Hugo, por meio de um conjunto de lentes é possível regular o tipo de movimento desse raio. A dinâmica caótica, por exemplo, é engendrada no momento em que fazemos o raio que parte do cristal semicondutor refletir-se sobre si mesmo, retornando ao interior do cristal. “A partir daí, os lasers são gerados desordenadamente”, explica o professor.

Por meio dos ajustes nos espelhos, pode-se controlar a freqüência dos lasers caóticos, permitindo a sincronização de dois sistemas diferentes. “Os sistemas sincronizados podem se comunicar, quando os raios são refletidos de um para o outro”, explica Hugo. E é esse princípio que pode ser aplicado em telecomunicações (telefonia, por exemplo) acabando de vez com a possibilidade do grampo.

“O sinal telefônico comum, ao percorrer a fibra óptica, pode ser interceptado e captado por terceiros. Se este sinal for um feixe de raios caóticos (de movimento imprevisível, portanto) não poderá mais ser decifrado, tornando-se inútil a interceptação”. Somente a central emissora e a central receptora poderiam decodificar a mensagem, combinando entre elas o código de leitura (o modo de ajuste da freqüência) dos raios laser.

Mas, mesmo o movimento caótico do laser apresenta propriedades que podem ser equacionadas, sendo possível calcular a freqüência e a amplitude média desses raios. E para se obter estes dados, os pesquisadores trabalham com unidades de tempo da ordem de bilionésimos de segundo.

O laboratório de Sistemas Dinâmicos é pioneiro na transmissão de sinal caótico. Outra vantagem da equipe é que ela trabalha com a sincronização imperfeita de lasers. “Os sistemas não são alinhados perfeitamente, impedindo que ocorram interferências, como retardos da transmissão dos raios devido a vibrações nos espelhos, por exemplo”, conta o físico Hugo Leonardo Cavalcante.