Grampo telefônico
pode ser evitado a partir dos raios caóticos do laser
Estudos feitos no Laboratório
de Sistemas Dinâmicos, do Departamento de Física,
revelam que o uso sincronizado dos lasers caóticos podem
ser usados para evitar a escuta telefônica
Clécio
Vidal
O caos como forma de garantir segurança nas telecomunicações
é objeto de estudo dos pesquisadores do Laboratório
de Sistemas Dinâmicos, do Departamento de Física
da UFPE. Entre os pesquisadores está Hugo Leonardo Davi
de Souza Cavalcante que, em seu doutorado, analisa a dinâmica
caótica de lasers feitos com diodos (dispositivos eletrônicos
usados para retificar a corrente elétrica). A sincronização
de lasers caóticos pode ser aplicada para evitar interceptações
de ligações telefônicas.
De acordo com o físico, os
lasers surgem quando uma corrente elétrica passa por um
cristal semicondutor no interior do qual existem elétrons
(um dos tipos de partículas que compõem os átomos).
Esses elétrons são excitados pela corrente e retornam
ao seu estado normal, situação que se repete enquanto
a eletricidade flui no cristal. “Ao voltarem ao estado normal,
os elétrons emitem a energia a mais captada em forma de
radiação, dando origem ao laser”, explica
o pesquisador.
Os raios podem ter uma intensidade
constante, periódica ou caótica (desordenada). E
segundo Hugo, por meio de um conjunto de lentes é possível
regular o tipo de movimento desse raio. A dinâmica caótica,
por exemplo, é engendrada no momento em que fazemos o raio
que parte do cristal semicondutor refletir-se sobre si mesmo,
retornando ao interior do cristal. “A partir daí,
os lasers são gerados desordenadamente”, explica
o professor.
Por meio dos ajustes nos espelhos,
pode-se controlar a freqüência dos lasers caóticos,
permitindo a sincronização de dois sistemas diferentes.
“Os sistemas sincronizados podem se comunicar, quando os
raios são refletidos de um para o outro”, explica
Hugo. E é esse princípio que pode ser aplicado em
telecomunicações (telefonia, por exemplo) acabando
de vez com a possibilidade do grampo.
“O sinal telefônico comum,
ao percorrer a fibra óptica, pode ser interceptado e captado
por terceiros. Se este sinal for um feixe de raios caóticos
(de movimento imprevisível, portanto) não poderá
mais ser decifrado, tornando-se inútil a interceptação”.
Somente a central emissora e a central receptora poderiam decodificar
a mensagem, combinando entre elas o código de leitura (o
modo de ajuste da freqüência) dos raios laser.
Mas, mesmo o movimento caótico
do laser apresenta propriedades que podem ser equacionadas, sendo
possível calcular a freqüência e a amplitude
média desses raios. E para se obter estes dados, os pesquisadores
trabalham com unidades de tempo da ordem de bilionésimos
de segundo.
O laboratório de Sistemas Dinâmicos
é pioneiro na transmissão de sinal caótico.
Outra vantagem da equipe é que ela trabalha com a sincronização
imperfeita de lasers. “Os sistemas não são
alinhados perfeitamente, impedindo que ocorram interferências,
como retardos da transmissão dos raios devido a vibrações
nos espelhos, por exemplo”, conta o físico Hugo Leonardo
Cavalcante.
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