Design do móvel
contemporâneo no Brasil tem a cara e o jeito do País
Estudo revela que o desenho dos móveis
brasileiros, nas décadas de 70 a 90, traz à memória
a herança cultural e os valores mais originais da nossa
gente
Anderson
Lima
Móveis em madeira, plástico ou tecido, artesanais
ou industriais. Estas são algumas técnicas e materiais
que fazem a cara do mobiliário feito no Brasil. A conclusão
está na tese de doutorado O Design do Móvel Contemporâneo
Brasileiro: da Diversidade à Especificidade, da designer
Virgínia Pereira Cavalcanti, professora e coordenadora
do curso de Desenho Industrial: Projeto do Produto da Universidade.
De acordo com o estudo, o diferencial
do design do móvel brasileiro é se basear na diversidade
de soluções projetuais. “Essa diversidade
tem fundamento em algumas características singulares que
diferenciam esse design de outros designes do mundo”, explica
a pesquisadora. Mais ainda. Esse design traz uma memória,
tanto urbana quanto tradicional e popular, que acumula as técnicas
produtivas, as heranças culturais e os valores mais originais
do povo brasileiro.
Os estilos e as tendências
do período contemporâneo, decorrentes principalmente
do moderno, mesclam-se e dão origem a dois grandes grupos
baseados na estética da forma e dos meios produtivos contemporâneos,
com sete categorias ao todo, que falam desde os limites entre
a arte e o design até o resgate dos valores culturais populares.
Outro fruto do período contemporâneo,
como explica a pesquisadora, é a popularização
do design brasileiro. “O design brasileiro já está
sendo visto com outros olhos no exterior, mas ainda falta muito
porque existe um descompasso tecnológico em relação
a outros países”, explica Virgínia Cavalcanti.
O trabalho mostra uma visão
panorâmica do design do móvel brasileiro entre as
décadas de 70 a 90, com especial atenção
para o eixo Rio de Janeiro-São Paulo. “Este é
um período de institucionalização do design
no Brasil, quando os profissionais começam a ser formados
por escolas de Desenho Industrial. Então começa
a ser formar um diferencial”, explica a professora. Também
são apresentados os principais designers do País,
reconhecidos pela crítica nacional e internacional, e uma
categorização das principais soluções
projetuais encontradas no período.
A pesquisa foi feita a partir da
entrevista e da coleta de material iconográfico de aproximadamente
40 designers e empresas especializadas. Foi dada prioridade aos
profissionais que tivessem um tempo mínimo de permanência
no mercado e com trabalhos que atravessaram o tempo sem perder
a qualidade.
O interesse da designer, no entanto,
é anterior ao trabalho: “Tinha uma vivência
com essa área porque meu pai teve uma empresa de móveis
durante 30 anos. Cresci dentro da indústria, conhecendo
as técnicas, as formas, os moldes. Então tudo isso
pra mim era muito familiar”, revela.
O trabalho foi defendido na Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(USP), tendo recebido o Prêmio Design Museu da Casa Brasileira
no final de 2002, e pode ser encontrado nas livrarias em breve.
“Já entrei em contato com algumas editoras que têm
tradição em publicar trabalhos nessa área
e elas já demonstraram interesse”, explica Virgínia
Cavalcanti.
PERNAMBUCO - Quanto a Pernambuco,
a professora explica que não existe ainda um design contemporâneo
que represente a cara do Estado. “Se você for às
lojas de design do Estado, pode encontrar design desenvolvido
em São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo design italiano,
mas muito pouco design pernambucano”, explica ela.
Mas a designer, que desenvolve projetos
de mobiliário com o jeito pernambucano, dá a dica:
“Pernambuco tem um repertório de idéias riquíssimo.
Tem manifestações populares únicas, um litoral
belíssimo e até a questão do sotaque e do
comportamento que, integrados à estética contemporânea,
podem ser traduzidos numa leitura do mobiliário. Talvez
este seja o caminho para se ter um mobiliário com uma cara
mais pernambucana”.
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