Modernidade
e velocidade seduzem Recife nos anos 20
José Carlos Targino
O Recife dos anos
20, ao descobrir a modernidade, deixou-se encantar por uma das
marcas mais salientes desta etapa da história humana: a
velocidade. E ser veloz, para o recifense desta época,
uma das mais importantes para a cultura brasileira em todos os
tempos, significava, por exemplo, guiar um automóvel.Ou
pilotar um avião. Ou falar ao telefone. Tais maravilhas,
ao encurtarem as distâncias, alteravam o tempo. Como também
acontecia com as transmissões radiofônicas. Esses
bens, invenções fantásticas que pretendiam
tornar a vida mais fácil e conferir sentido prático
às ações do dia-a-dia, estavam, no entanto,
ao alcance de bem poucas pessoas.
Estas são algumas das conclusões
a que chegou Jailson Pereira da Silva, em sua dissertação
de mestrado em História O encanto da velocidade: automóveis,
aviões e outras maravilhas no Recife dos anos 20. Professor
de história medieval e história moderna das Faculdades
Integradas da Vitória de Santo Antão (Faint-visa),
Jailson Pereira flagrou o Recife num período de grande
efervescência cultural, quando assumiram cores dramáticas
e polêmicas as discussões em torno do “tradicional”
e do “ moderno” .
RELÓGIOS PÚBLICOS
- “A concepção de modernidade está
centrada na idéia de que não se é moderno
se não se é veloz”, afirma o professor. E
o automóvel, maravilha mais tangível que qualquer
outra, foi quem melhor simbolizou as transformações
daquele momento. No Carnaval, por exemplo, o automóvel
virou uma das principais atrações dos foliões.
Uma invenção moderna invadindo um reduto da tradição.
Esse fascínio pela velocidade foi tamanho que, em 1922,
ano em que se deu a primeira travessia do Atlântico Sul,
o entusiasmo pelo feito “ofuscou até mesmo as agitações
causadas pelo centenário da Independência”.
Para conhecimento, controle e marcação do ritmo
do tempo, o Recife viu serem instalados grandes relógios
em lugares de visibilidade pública, como o do prédio
do Diário de Pernambuco.
Quando a década seguinte teve
início, os moradores da cidade já estavam devidamente
familiarizados com todas essas invenções. Assim,
muitas opções lhes eram oferecidas no cotidiano.
Uma delas era olhar o trânsito dos automóveis nas
principais ruas da capital. Outra era assistir a uma sessão
de cinema (mais uma invenção moderna). Ou ir até
o Bairro do Recife ver um hidroavião amerissar. “Quem
tinha dinheiro podia optar por uma audição da Rádio
Club ou uma ida até as lojas de artigos de moda para se
atualizar de acordo com os mais recentes costumes provenientes
da Europa”, conclui o mestre.
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