Ano VIII - Nº 109 - Fevereiro/2003












 

Modernidade e velocidade seduzem Recife nos anos 20

José Carlos Targino

O Recife dos anos 20, ao descobrir a modernidade, deixou-se encantar por uma das marcas mais salientes desta etapa da história humana: a velocidade. E ser veloz, para o recifense desta época, uma das mais importantes para a cultura brasileira em todos os tempos, significava, por exemplo, guiar um automóvel.Ou pilotar um avião. Ou falar ao telefone. Tais maravilhas, ao encurtarem as distâncias, alteravam o tempo. Como também acontecia com as transmissões radiofônicas. Esses bens, invenções fantásticas que pretendiam tornar a vida mais fácil e conferir sentido prático às ações do dia-a-dia, estavam, no entanto, ao alcance de bem poucas pessoas.

Estas são algumas das conclusões a que chegou Jailson Pereira da Silva, em sua dissertação de mestrado em História O encanto da velocidade: automóveis, aviões e outras maravilhas no Recife dos anos 20. Professor de história medieval e história moderna das Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão (Faint-visa), Jailson Pereira flagrou o Recife num período de grande efervescência cultural, quando assumiram cores dramáticas e polêmicas as discussões em torno do “tradicional” e do “ moderno” .

RELÓGIOS PÚBLICOS - “A concepção de modernidade está centrada na idéia de que não se é moderno se não se é veloz”, afirma o professor. E o automóvel, maravilha mais tangível que qualquer outra, foi quem melhor simbolizou as transformações daquele momento. No Carnaval, por exemplo, o automóvel virou uma das principais atrações dos foliões. Uma invenção moderna invadindo um reduto da tradição. Esse fascínio pela velocidade foi tamanho que, em 1922, ano em que se deu a primeira travessia do Atlântico Sul, o entusiasmo pelo feito “ofuscou até mesmo as agitações causadas pelo centenário da Independência”. Para conhecimento, controle e marcação do ritmo do tempo, o Recife viu serem instalados grandes relógios em lugares de visibilidade pública, como o do prédio do Diário de Pernambuco.

Quando a década seguinte teve início, os moradores da cidade já estavam devidamente familiarizados com todas essas invenções. Assim, muitas opções lhes eram oferecidas no cotidiano. Uma delas era olhar o trânsito dos automóveis nas principais ruas da capital. Outra era assistir a uma sessão de cinema (mais uma invenção moderna). Ou ir até o Bairro do Recife ver um hidroavião amerissar. “Quem tinha dinheiro podia optar por uma audição da Rádio Club ou uma ida até as lojas de artigos de moda para se atualizar de acordo com os mais recentes costumes provenientes da Europa”, conclui o mestre.