Ano VIII - Nº 91 - Novembro/2001












 

Feijão pode auxiliar a identificar células tumorais

Encontrado no Sertão de Pernambuco, o feijão camaratu, cientificamente chamado de Cratylia mollis, pode ajudar a identificar células tumorais. Essa e outras propriedades do vegetal serviram como objeto de pesquisa para a professora Ana Célia, do doutorado do Centro de Ciências Biológicas.

Desde 1984, pesquisadores liderados pela professora Luana Coelho estudam o camaratu, observando principalmente as lectinas (grupo de proteínas que reconhecem carboidratos e têm envolvimento nos mecanismos de defesa do organismo, entre outras funções). O feijão camaratu não é cultivado, mas brota espontaneamente no solo, sendo utilizado pelos sertanejos como alimento para o gado. Como o feijão resiste a grandes períodos de seca, nessa época a vagem do vegetal é utilizada também para a alimentação humana. A pesquisadora fez um estudo sobre as propriedades nutricionais do camaratu e observou que a sua composição é muito semelhante à do feijão macáçar.

Dessa forma, se aliado a algumas técnicas de cultivo, o feijão camaratu pode vir a ser uma forma alternativa de obtenção de proteínas para os seres humanos. Durante a pesquisa, três tipos de lectinas foram observadas, no camaratu. Dentre elas, a Lectina 1 ( ISO 1) que serve para a marcação de superfície de células tumorais, como as do câncer de mama e de colo do útero.

NASA - Um grupo de pesquisadores da Nasa (Agência Aeroespacial Norte-Americana) levou a lectina ISO 1 do feijão camaratu, juntamente com outras proteínas, para pesquisas fora da atmosfera. E foi justamente a lectina do camaratu que melhor cristalizou-se no espaço. Esse resultado rendeu uma nova pesquisa para a ISO 1 do feijão. Pesquisadores da USP e da UFPE estão fazendo o seqüencia-mento da lectina para explicar por que motivo ela cristalizou-se tão bem fora da atmosfera.

Segundo a pesquisadora, a lectina cristalizada está em seu estado mais puro e a cristalização é importante porque permitirá saber com precisão como cada proteína exerce sua função, além de aprender como a natureza cria possibilidades para efetuar os processos vitais. As proteínas são a chave de todos os processos biológicos que compõem a vida, tornando-se essencial conhecer de perto sua estrutura interna. O resultado da pesquisa deve ser divulgado no próximo ano.