Projeto social
leva informações e poços ao Sertão
O projeto atende ao município
de Custódia, também com ensino sobre o uso racional
da água nos distritos de Samambaia, Caiçara Salgado
e Feira Nova
Anderson Lima
O Departamento de Serviço
Social da UFPE, em parceria com o Governo do Canadá, está
desenvolvendo um projeto que visa à perfuração
de poços no município de Custódia (340 quilômetros
do Recife), no Sertão pernambucano, e ao repasse de informações
sobre o uso racional da água. A intervenção
alcança os distritos de Samambaia e Caiçara, e os
povoados de Salgado e Feira Nova, por meio do Serviço Geológico
Canadense e da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional
(CIDA, em inglês), do Programa de Água Subterrânea
do Nordeste do Brasil (Proasne) e do projeto Conhecendo e Mobilizando
o Social no Moxotó.
Os trabalhos na bacia do Moxotó já têm um
ano, de um total de três, e pretendem ainda formar lideranças
nas comunidades para que seja dada continuidade ao que já
foi realizado sobre o uso da água e a preservação
do meio ambiente.
Isso é feito, explica Renata Ramos Severo, estudante de
Serviço Social, da forma mais lúdica e dinâmica
possível, porque a população se diverte e,
ao mesmo tempo, aprende. "A partir do que eles já
têm da cultura deles, procuramos construir um novo conhecimento
e não chegar lá com um conhecimento já pronto,
acabado", conclui Márcia Gomes, que compartilha da
experiência com Renata e outras colegas de curso.
O número de domicílios atendidos é de 350,
mas estima-se uma quantidade bem maior de famílias beneficiadas.
São as mulheres que estão participando mais ativamente
das intervenções, pois são elas que lidam
mais com a água, seja lavando roupas ou cuidando da cozinha.
Equipe - Ao todo, 16 pessoas estão envolvidas no projeto,
sendo três professoras e nove alunos de graduação
em Serviço Social da UFPE, além de outros quatro
profissionais da Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos
(CPRH).
Os resultados já começaram a aparecer. Tonéis
que antes eram deixados abertos, agora são tampados, o
que tem evitado o aparecimento de novos focos de dengue, além
de a água consumida por cada família estar durando
bem mais. No distrito de Samambaia, no entanto, o tratamento dado
à água está mudando de forma mais lenta.
Apenas o cloro, quando chegar a ser distribuído, é
utilizado para tratar a água, que não é fervida
e, muitas vezes, é apenas decantada para eliminar o seu
aspecto barrento.
Os esforços dos envolvidos no projeto também estão
rendendo bons frutos para a área acadêmica. A partir
da pesquisa inicial, já foram produzidos cinco outros trabalhos,
além da criação de uma disciplina de extensão
com aulas totalmente práticas.
População
atendida já desfruta das melhorias no uso da água
De acordo com Andréa Poline Campos, 25 anos, professora
da Escola Municipal Luiz Cristiano Ferreira, no distrito de Caiçara,
a intervenção tem produzido bons resultados: "Apesar
de a água ser salgada, eles (os moradores) não estão
estragando mais como antes. Um tambor que durava dois dias, agora
está durando três. Melhorou muito". Ela afirma
ainda que "o sertanejo está acostumado com o sofrimento.
Quando eles vêem uma coisa boa, não acreditam. A
política em si provoca medo. Então, eles têm
medo de participar e depois serem cobrados, porque já aconteceu
isso aqui. O medo deles é esse, e o meu também",
conclui.
Em Samambaia, João Pereira de Lima, conhecido como "João,
o Bom", afirma que não é fácil encontrar
água. "Não dá nem uma lata por dia",
afirma enquanto carrega dois tonéis de uma água
barrenta retirada do único açude da comunidade,
usado também pelos animais. Ele concorda que a ação
educativa está ajudando, mas ainda mostra um certo descrédito.
"Aqui as coisas são assim: começam, mas não
findam. Eu tô que nunca vi coisa boa, só quando Deus
dá". Opinião compartilhada por sua esposa,
dona Minervina do Espírito Santo: "Quem ajuda nós
é Deus."
Para a pequena Primitiva Priscila Gomes de Lima, nove anos, estudante
da 2º série da Escola Municipal Luiz Cristiano Ferreira,
é um bom trabalho esse que está sendo realizado
nas localidades, já tendo aprendido até que não
é bom gastar a água. Apesar disso, a primeira coisa
que faria caso houvesse bastante água na sua comunidade
seria 'brincar'.
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