Ano VIII - Nº 93 - Janeiro/2002












 
Projeto social leva informações e poços ao Sertão

O projeto atende ao município de Custódia, também com ensino sobre o uso racional da água nos distritos de Samambaia, Caiçara Salgado e Feira Nova

Anderson Lima

O Departamento de Serviço Social da UFPE, em parceria com o Governo do Canadá, está desenvolvendo um projeto que visa à perfuração de poços no município de Custódia (340 quilômetros do Recife), no Sertão pernambucano, e ao repasse de informações sobre o uso racional da água. A intervenção alcança os distritos de Samambaia e Caiçara, e os povoados de Salgado e Feira Nova, por meio do Serviço Geológico Canadense e da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA, em inglês), do Programa de Água Subterrânea do Nordeste do Brasil (Proasne) e do projeto Conhecendo e Mobilizando o Social no Moxotó.
Os trabalhos na bacia do Moxotó já têm um ano, de um total de três, e pretendem ainda formar lideranças nas comunidades para que seja dada continuidade ao que já foi realizado sobre o uso da água e a preservação do meio ambiente.
Isso é feito, explica Renata Ramos Severo, estudante de Serviço Social, da forma mais lúdica e dinâmica possível, porque a população se diverte e, ao mesmo tempo, aprende. "A partir do que eles já têm da cultura deles, procuramos construir um novo conhecimento e não chegar lá com um conhecimento já pronto, acabado", conclui Márcia Gomes, que compartilha da experiência com Renata e outras colegas de curso.
O número de domicílios atendidos é de 350, mas estima-se uma quantidade bem maior de famílias beneficiadas. São as mulheres que estão participando mais ativamente das intervenções, pois são elas que lidam mais com a água, seja lavando roupas ou cuidando da cozinha.
Equipe - Ao todo, 16 pessoas estão envolvidas no projeto, sendo três professoras e nove alunos de graduação em Serviço Social da UFPE, além de outros quatro profissionais da Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos (CPRH).
Os resultados já começaram a aparecer. Tonéis que antes eram deixados abertos, agora são tampados, o que tem evitado o aparecimento de novos focos de dengue, além de a água consumida por cada família estar durando bem mais. No distrito de Samambaia, no entanto, o tratamento dado à água está mudando de forma mais lenta. Apenas o cloro, quando chegar a ser distribuído, é utilizado para tratar a água, que não é fervida e, muitas vezes, é apenas decantada para eliminar o seu aspecto barrento.
Os esforços dos envolvidos no projeto também estão rendendo bons frutos para a área acadêmica. A partir da pesquisa inicial, já foram produzidos cinco outros trabalhos, além da criação de uma disciplina de extensão com aulas totalmente práticas.

População atendida já desfruta das melhorias no uso da água


De acordo com Andréa Poline Campos, 25 anos, professora da Escola Municipal Luiz Cristiano Ferreira, no distrito de Caiçara, a intervenção tem produzido bons resultados: "Apesar de a água ser salgada, eles (os moradores) não estão estragando mais como antes. Um tambor que durava dois dias, agora está durando três. Melhorou muito". Ela afirma ainda que "o sertanejo está acostumado com o sofrimento. Quando eles vêem uma coisa boa, não acreditam. A política em si provoca medo. Então, eles têm medo de participar e depois serem cobrados, porque já aconteceu isso aqui. O medo deles é esse, e o meu também", conclui.
Em Samambaia, João Pereira de Lima, conhecido como "João, o Bom", afirma que não é fácil encontrar água. "Não dá nem uma lata por dia", afirma enquanto carrega dois tonéis de uma água barrenta retirada do único açude da comunidade, usado também pelos animais. Ele concorda que a ação educativa está ajudando, mas ainda mostra um certo descrédito. "Aqui as coisas são assim: começam, mas não findam. Eu tô que nunca vi coisa boa, só quando Deus dá". Opinião compartilhada por sua esposa, dona Minervina do Espírito Santo: "Quem ajuda nós é Deus."
Para a pequena Primitiva Priscila Gomes de Lima, nove anos, estudante da 2º série da Escola Municipal Luiz Cristiano Ferreira, é um bom trabalho esse que está sendo realizado nas localidades, já tendo aprendido até que não é bom gastar a água. Apesar disso, a primeira coisa que faria caso houvesse bastante água na sua comunidade seria 'brincar'.