Estudo testa bioinseticida
contra pragas
A
partir da ação de fungos
sob pragas recorrentes na lavoura e pecuária, pesquisadores da
UFPE estudam alternativa de combate à mosca branca, carrapato
e gafanhoto
Clécio
Vidal
O Departamento de Micologia da UFPE está pesquisando como os fungos
Beauveria bassiana, Metarhizium
anisopliae e Metarhizium flavoviride realizam seu processo
de combate a pragas agrícolas e ao carrapato bovino. O procedimento
do fungo é como o movimento de uma bala que, ao atingir o alvo,
percorre-o e explode ao sair. E o alvo, neste caso, são a mosca-branca,
o carrapato e o gafanhoto.
O bioinseticida, desenvolvido por pesquisadores orientados pela professora
Elza Áurea, poderá ser aplicado por pulverização em pó seco ou
em suspensão em líquidos. A Universidade estuda a possibilidade
de testar a nova arma em lavouras de cana-de-açúcar (atacadas
por cigarrinhas) no Estado de Alagoas e em bovinos, no município
de Bezerros (PE). Contra a mosca-branca, por exemplo,
foi alcançado um sucesso de 72% com a utilização do bioinseticida.
E também o combate aos cupins está sendo estudado.
O desenvolvimento do bioinseticida passa por estudos que vão da genética
molecular à análise das enzimas produzidas por eles. “Os
fungos se acoplam aos insetos, liberam enzimas que corroem a cutícula
que os reveste e, assim, penetram no alvo”, explica a professora
Ubirany Lopes, também membro da equipe de pesquisa. Dentro do
inseto, o fungo se prolifera e lança toxinas. Depois disso, ele
se ramifica por fora do inseto como se fosse uma teia. O ciclo
se repete até a morte da praga.
De acordo com a pesquisadora Elza Áurea, o controle biológico de pragas
é mais recomendável do que o controle químico. “Os inseticidas,
à base de produtos químicos, deixam resíduos que podem ficar no
ambiente por mais de 300 anos, prejudicando a fecundidade do solo,
por exemplo”, enfatiza. O bioinseticida pode ser utilizado
sem causar danos às plantas, ao gado e aos seres humanos: “Os
fungos podem atuar de maneira preventiva. Isso é importante porque
algumas pragas, como a mosca-branca, são microscópicas, o que
dificulta sua detecção. Os fungos atacam a mosca ainda na fase
de ninfa”, comenta Fábio Marcondes, um dos estudantes envolvidos
no projeto.
Outro motivo para o bioinseticida ser
utilizado, segundo Elza, é a resistência que os insetos estão
adquirindo aos produtos químicos. “O bioinseticida tem custos
menores, o que deve atrair a atenção dos pecuaristas e agricultores”,
afirma. Somente na década de 80, o Brasil gastou cerca de US$
2 milhões na aplicação de inseticidas químicos, nas situações
de emergência, devido aos surtos de gafanhotos ocorridos nos estados
de Mato Grosso e Rondônia.
Fungos podem
ter outra utilidade
A pesquisadora Ubirany Lopes também estuda a capacidade dos fungos
de produzir enzimas diferentes em determinados meios. De acordo
com ela, os fungos fabricam enzimas como a lípase, que age sobre
as gorduras. “Isso os torna aptos a serem utilizados na
indústria de sabão, por exemplo”, afirma.
A seleção das linhagens de fungos utilizados nas pesquisas ficou a
cargo da professora Ana Luísa da Silva, do Laboratório de Genética
Molecular, por meio da técnica RAPD (polimorfismo de DNA amplificado
ao acaso).
Esse trabalho, de acordo com as pesquisadoras,
cria a possibilidade de manipulação genética dos fungos. “Isso
pode favorecer a geração de fungos mais potentes na destruição de
pragas, além de ser possível inibir o poder de destruição de espécies
parasitas”, explica Ubirany Lopes.
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