Ano VIII - Nº 99 - Abril/2002











 
Estudo testa bioinseticida contra pragas

A partir da ação de fungos sob pragas recorrentes na lavoura e pecuária, pesquisadores da UFPE estudam alternativa de combate à mosca branca, carrapato e gafanhoto

Clécio Vidal

O Departamento de Micologia da UFPE está pesquisando como os fungos Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Metarhizium flavoviride realizam seu processo de combate a pragas agrícolas e ao carrapato bovino. O procedimento do fungo é como o movimento de uma bala que, ao atingir o alvo, percorre-o e explode ao sair. E o alvo, neste caso, são a mosca-branca, o carrapato e o gafanhoto.

O bioinseticida, desenvolvido por pesquisadores orientados pela professora Elza Áurea, poderá ser aplicado por pulverização em pó seco ou em suspensão em líquidos. A Universidade estuda a possibilidade de testar a nova arma em lavouras de cana-de-açúcar (atacadas por cigarrinhas) no Estado de Alagoas e em bovinos, no município de Bezerros (PE). Contra a mosca-branca, por exemplo, foi alcançado um sucesso de 72% com a utilização do bioinseticida. E também o combate aos cupins está sendo estudado.

O desenvolvimento do bioinseticida passa por estudos que vão da genética molecular à análise das enzimas produzidas por eles. “Os fungos se acoplam aos insetos, liberam enzimas que corroem a cutícula que os reveste e, assim, penetram no alvo”, explica a professora Ubirany Lopes, também membro da equipe de pesquisa. Dentro do inseto, o fungo se prolifera e lança toxinas. Depois disso, ele se ramifica por fora do inseto como se fosse uma teia. O ciclo se repete até a morte da praga.

De acordo com a pesquisadora Elza Áurea, o controle biológico de pragas é mais recomendável do que o controle químico. “Os inseticidas, à base de produtos químicos, deixam resíduos que podem ficar no ambiente por mais de 300 anos, prejudicando a fecundidade do solo, por exemplo”, enfatiza. O bioinseticida pode ser utilizado sem causar danos às plantas, ao gado e aos seres humanos: “Os fungos podem atuar de maneira preventiva. Isso é importante porque algumas pragas, como a mosca-branca, são microscópicas, o que dificulta sua detecção. Os fungos atacam a mosca ainda na fase de ninfa”, comenta Fábio Marcondes, um dos estudantes envolvidos no projeto.

Outro motivo para o bioinseticida ser utilizado, segundo Elza, é a resistência que os insetos estão adquirindo aos produtos químicos. “O bioinseticida tem custos menores, o que deve atrair a atenção dos pecuaristas e agricultores”, afirma. Somente na década de 80, o Brasil gastou cerca de US$ 2 milhões na aplicação de inseticidas químicos, nas situações de emergência, devido aos surtos de gafanhotos ocorridos nos estados de Mato Grosso e Rondônia.

Fungos podem ter outra utilidade

A pesquisadora Ubirany Lopes também estuda a capacidade dos fungos de produzir enzimas diferentes em determinados meios. De acordo com ela, os fungos fabricam enzimas como a lípase, que age sobre as gorduras. “Isso os torna aptos a serem utilizados na indústria de sabão, por exemplo”, afirma.

A seleção das linhagens de fungos utilizados nas pesquisas ficou a cargo da professora Ana Luísa da Silva, do Laboratório de Genética Molecular, por meio da técnica RAPD (polimorfismo de DNA amplificado ao acaso).

Esse trabalho, de acordo com as pesquisadoras, cria a possibilidade de manipulação genética dos fungos. “Isso pode favorecer a geração de fungos mais potentes na destruição de pragas, além de ser possível inibir o poder de destruição de espécies parasitas”, explica Ubirany Lopes.