UFPE e escolas
se unem em busca de conhecimento
Expedições científicas
facilitam aprendizagem de conceitos das áreas de biologia
e geografia, além de gerar mais conhecimento e despertar
a cidadania nos alunos
Clécio Vidal
Transformar a natureza em um grande
laboratório e, ao mesmo tempo, em espaço para o
despertar filosófico de jovens. Essa é a proposta
das expedições científicas organizadas pelos
Departamentos de Biologia e de Geografia da UFPE, em parceria
com a empresa Asa Branca Projetos Pedagógicos. Estão
participando do programa alunos dos ensinos médio e fundamental
de diversas escolas de Pernambuco e de outros estados.
Como Francis Bacon, os jovens das
expedições científicas querem entender o
que está "escrito" no "livro da natureza",
porém, seguindo o caminho inverso ao desse cientista: dos
textos para o contexto. Para isso, os estudantes têm visitado
lugares como o Delta do Rio Parnaíba, no Piauí,
e a região de Xingó, na divisa dos estados de Alagoas,
Sergipe e Pernambuco. O Pantanal de Mato Grosso será acrescentado
ao roteiro. A excursão mais recente, realizada com alunos
e professores do Colégio Boa Viagem (CBV), percorreu a
Chapada Diamantina, no sertão baiano.
O caminho das expedições
e o conteúdo das aulas são planejados junto às
escolas. O trajeto é feito de ônibus e acontecem
paradas estratégicas ao longo do percurso. Os professores
fazem um levantamento prévio da área para obter
informações geológicas, biológicas
e químicas, além de observar os impactos das ações
humanas no ambiente e como as idéias e sentimentos humanos
interferem na configuração do espaço. Fábio
Marcondes, aluno do curso de Ciências Biológicas,
reconhece a importância das excursões para a UFPE.
"Quinze pesquisas da Universidade tiveram origem a partir
de dados coletados nas excursões", revela Marcondes,
monitor das aulas de biologia do projeto.
Robson Carlos, diretor da empresa
de expedições pedagógicas e coordenador do
projeto, afirma que o objetivo do programa é fazer com
que os jovens não levem para casa apenas a sensação
de deslumbramento com as paisagens, mas se surpreendam ao saber
como as informações de mapas e fórmulas químicas
representam a natureza.
A surpresa, proporcionada pelo contato
com a natureza, desperta a curiosidade, tornando mais simples
a aprendizagem de conceitos que, normalmente, soam chatos e complicados.
"Planaltos, estalactites e águas de lagos e rios passam
a ser vistos como personagens de um filme. As noções
químicas e geológicas são os elementos que
desvendam a relação entre esses personagens, na
trama da natureza", diz a professora de química Tatiana
Marques, do CBV.
Nas expedições, os
alunos também encontram conhecimento "nas sombras".
Na caverna da Lapa Doce, localizada no município de Lençóis,
conhecem o mito da caverna de Platão e o relacionam com
a cidadania. Segundo o mito, os homens que não conhecem
a verdade são como prisioneiros numa caverna onde só
enxergam sombras. "Conhecer a verdade, não é
somente 'ver a luz', mas compartilhá-la, caso contrário,
continuaremos cercados de trevas. A sociedade atual, extremamente
individualista e desigual, é assim. Poucos têm acesso
à luz (ostentação), mas vivem rodeados pelas
trevas da violência", explica a professora Célia
Cabral, na aula de filosofia, ministrada em plena caverna.
Durante a viagem, os adolescentes
vêem a arte colonial de localidades como Mucugê, entendendo
como os interesses econômicos e políticos configuram
a arquitetura. "Os alunos conhecem, entre outros lugares,
um dos únicos cemitérios bizantinos do mundo e entendem
como a diminuição progressiva do número de
túmulos de luxo a partir do século XIX indica o
enfraquecimento das elites que viviam em função
da exploração dos diamantes", conta a professora
Gleide Silveira, também do CBV.
Além de gerar conhecimento,
a viagem desperta a cidadania. "Ao vermos a raridade e a
beleza da Chapada, sentimos que a natureza também é
nossa casa e entendemos a importância de pequenos gestos
como não jogar lixo no chão", enfatiza a estudante
Raylza Carneiro.
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