Ano VIII - Nº 100 - Maio/2002











 
UFPE e escolas se unem em busca de conhecimento

Expedições científicas facilitam aprendizagem de conceitos das áreas de biologia e geografia, além de gerar mais conhecimento e despertar a cidadania nos alunos

Clécio Vidal

Transformar a natureza em um grande laboratório e, ao mesmo tempo, em espaço para o despertar filosófico de jovens. Essa é a proposta das expedições científicas organizadas pelos Departamentos de Biologia e de Geografia da UFPE, em parceria com a empresa Asa Branca Projetos Pedagógicos. Estão participando do programa alunos dos ensinos médio e fundamental de diversas escolas de Pernambuco e de outros estados.

Como Francis Bacon, os jovens das expedições científicas querem entender o que está "escrito" no "livro da natureza", porém, seguindo o caminho inverso ao desse cientista: dos textos para o contexto. Para isso, os estudantes têm visitado lugares como o Delta do Rio Parnaíba, no Piauí, e a região de Xingó, na divisa dos estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco. O Pantanal de Mato Grosso será acrescentado ao roteiro. A excursão mais recente, realizada com alunos e professores do Colégio Boa Viagem (CBV), percorreu a Chapada Diamantina, no sertão baiano.

O caminho das expedições e o conteúdo das aulas são planejados junto às escolas. O trajeto é feito de ônibus e acontecem paradas estratégicas ao longo do percurso. Os professores fazem um levantamento prévio da área para obter informações geológicas, biológicas e químicas, além de observar os impactos das ações humanas no ambiente e como as idéias e sentimentos humanos interferem na configuração do espaço. Fábio Marcondes, aluno do curso de Ciências Biológicas, reconhece a importância das excursões para a UFPE. "Quinze pesquisas da Universidade tiveram origem a partir de dados coletados nas excursões", revela Marcondes, monitor das aulas de biologia do projeto.

Robson Carlos, diretor da empresa de expedições pedagógicas e coordenador do projeto, afirma que o objetivo do programa é fazer com que os jovens não levem para casa apenas a sensação de deslumbramento com as paisagens, mas se surpreendam ao saber como as informações de mapas e fórmulas químicas representam a natureza.

A surpresa, proporcionada pelo contato com a natureza, desperta a curiosidade, tornando mais simples a aprendizagem de conceitos que, normalmente, soam chatos e complicados. "Planaltos, estalactites e águas de lagos e rios passam a ser vistos como personagens de um filme. As noções químicas e geológicas são os elementos que desvendam a relação entre esses personagens, na trama da natureza", diz a professora de química Tatiana Marques, do CBV.

Nas expedições, os alunos também encontram conhecimento "nas sombras". Na caverna da Lapa Doce, localizada no município de Lençóis, conhecem o mito da caverna de Platão e o relacionam com a cidadania. Segundo o mito, os homens que não conhecem a verdade são como prisioneiros numa caverna onde só enxergam sombras. "Conhecer a verdade, não é somente 'ver a luz', mas compartilhá-la, caso contrário, continuaremos cercados de trevas. A sociedade atual, extremamente individualista e desigual, é assim. Poucos têm acesso à luz (ostentação), mas vivem rodeados pelas trevas da violência", explica a professora Célia Cabral, na aula de filosofia, ministrada em plena caverna.

Durante a viagem, os adolescentes vêem a arte colonial de localidades como Mucugê, entendendo como os interesses econômicos e políticos configuram a arquitetura. "Os alunos conhecem, entre outros lugares, um dos únicos cemitérios bizantinos do mundo e entendem como a diminuição progressiva do número de túmulos de luxo a partir do século XIX indica o enfraquecimento das elites que viviam em função da exploração dos diamantes", conta a professora Gleide Silveira, também do CBV.

Além de gerar conhecimento, a viagem desperta a cidadania. "Ao vermos a raridade e a beleza da Chapada, sentimos que a natureza também é nossa casa e entendemos a importância de pequenos gestos como não jogar lixo no chão", enfatiza a estudante Raylza Carneiro.