Ano VIII - Nº 100 - Maio/2002












 

Cavalo Marinho é tema de pesquisa no mestrado

A mestranda em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco Helena Maria Tenderini identificou que a relação de integrantes de grupos de Cavalo Marainho com a mídia e com pessoas de outros níveis sociais pode interferir na representação desse folguedo popular. A afirmação está no trabalho Cavalo Marinho: real e imaginário na fronteira entre a casa-grande e o terreiro dos brincantes.

A pesquisa faz um estudo comparativo entre os grupos de Cavalo Marinho de Mestre Biu Alexandre, de Condado, no interior de Pernambuco, e o de Mestre Salustiano, da Cidade Tabajara, de Olinda.

O trabalho estuda a rede de relações étnicas, sociais e simbólicas existentes na manifestação cultural do Cavalo Marinho. Em um sentido mais amplo, a pesquisadora espera contribuir para uma reflexão sobre os fatores que possam causar uma espécie de "amnésia social" - que desencadeia a perda da identidade - no que diz respeito à origem da própria sociedade na qual os povos pertencentes à "diáspora africana" estão inseridos.

A pesquisa verificou que no Cavalo Marinho do interior, por exemplo, o Mestre Ambrósio é a primeira figura que apresenta todas as outras. Já no da capital, ele aparece durante o desenrolar do folguedo. Uma outra diferença é que a presença da mulher como representante de figuras aparece com mais freqüência no Cavalo Marinho da Cidade Tabajara. No interior, normalmente, apenas os homens atuam no folguedo, mesmo representando as figuras femininas. Isso acontece porque, segundo os próprios brincantes, há "safadeza" nas apresentações.

O Cavalo Marinho conta a história de dois negros e um senhor, que é o capitão Marinho. O capitão representa o senhor de engenho, a casa-grande; e os negros, os escravos. A mestranda ressalta que, no interior, a maioria dos brincantes trabalha ou trabalhou no corte da cana, havendo uma relação direta entre o que eles representam e o que eles vivem. Já no Cavalo Marinho de Mestre Salustiano, essa relação não está muito presente, principalmente pelo distanciamento da realidade dos canaviais. "É justamente aí onde entra o processo de amnésia social citado no trabalho", diz a pesquisadora.