Ano VIII - Nº 102 - Julho/2002














 

Projeto alia arte e conscientização

Em parceria com a Prefeitura do Recife, a UFPE oferece oficinas de artes para jovens de áreas de riscos de desabamento. O objetivo é informar sobre medidas preventivas

Juliana Holanda

A Universidade Federal de Pernambuco, em parceria com a Prefeitura do Recife, está oferecendo aos moradores de morros e encostas da cidade oficinas de artes com o objetivo de repassar informações sobre os cuidados necessários para a redução de riscos de desabamento durante o inverno. O Projeto Altas Artes funciona há um ano e já beneficiou 60 jovens do bairro do Ibura. No próximo mês, as oficinas serão instaladas no Morro da Conceição.

O projeto oferece aulas de grafitagem e mosaico dirigidas aos jovens. Depois de aprenderem a manejar os spray de tinta e a fazer desenhos com os cacos de azulejo, os adolescentes do Ibura estão usando as novas técnicas para decorar o bairro. Uma das maiores obras é uma escadaria de cerca de 200 degraus que já se encontra quase inteiramente coberta por um mosaico. Para Ana Maria Jerônimo, da Comissão de Defesa Civil do Recife (Codecir), uma das coordenadoras do projeto, essa é a forma mais eficaz de fazer a população gostar e cuidar do local onde mora. “Não adianta fazer reuniões com moradores e informar que não se deve plantar bananeiras, pois estas encharcam o solo, ou que não se deve jogar lixo”, afirma ela.

O projeto não beneficia apenas a população dos morros. Por ser uma atividade de extensão da UFPE, o Altas Artes é também um projeto pedagógico. Para os universitários envolvidos, o trabalho nos morros melhora o aprendizado e lhes dá mais experiência prática em seu campo de atuação. Maria Luiza Modesto é uma dessas estudantes. Aluna do 6º período do curso de Artes Plásticas na UFPE, ela participa do Altas Artes desde março desse ano como instrutora de mosaico. “Tem sido maravilhoso me aprofundar na técnica do mosaico. Como eu vou me formar em Licenciatura, o trabalho está sendo muito enriquecedor. Estou colocando em prática aquilo que sempre quis fazer”, explica.

Os benefícios para os jovens que recebem as aulas também são muitos, segundo a estudante. Para ela, o trabalho de valorização dos morros pela arte aumenta a auto-estima dos jovens e serve como terapia. Mas não é só. De acordo com Ana Maria Jerônimo, as aulas de grafitagem e de mosaico são uma forma de capacitar os jovens para o mercado de trabalho. “Além de embelezar o bairro onde moram, os jovens aprendem uma profissão”, afirma a coordenadora. Segundo ela, os jovens recebem certificados do Sindicato dos Artistas de Pernambuco ao terminarem os cursos. “Alguns já estão tendo retorno financeiro”, afirma Maria Luiza Modesto. Ela explica que, em cerca de duas semanas, os jovens dominam as técnicas básicas do mosaico e começam a trabalhar em obras do morro.

MULTIPLICADORES – Um dos objetivos do Altas Artes é fazer com que os jovens beneficiados se tornem multiplicadores, repassando seus conhecimentos para outros moradores. Para a instrutora, é gratificante saber que quando o projeto deixar a comunidade do Ibura e se transferir para o Morro da Conceição, os jovens continuarão a produzir mosaicos. De acordo com Ana Maria Jerônimo, o Altas Artes irá ampliar suas ações. Os alvos atualmente são os bairros de Santa Terezinha e Dois Unidos.
O Altas Artes faz parte do Programa Guarda-Chuva que presta diversos outros serviços às comunidades de áreas de risco e que também funciona por meio de uma parceria da PCR com a UFPE. A parceria prevê que os recursos para a realização do projeto virão da Prefeitura. A UFPE disponibiliza profissionais e estudantes das áreas requisitadas. Desde o início das atividades, já foi cedida mão-de-obra especializada dos cursos de Turismo, Serviço Social, Ciências Biológicas, Geografia, Arquitetura e Comunicação. Ao todo, são 30 estudantes envolvidos, além de professores que coordenam as ações em cada especialidade.