Ano VIII - Nº 102 - Julho/2002












 

Falta fair play no futebol estadual

Diante de situações simuladas em que estavam em questão noções de respeito às regras, ao árbitro e aos adversários, muitos jogadores revelaram atitudes antidesportivas

Louisiana Lima

Os jogadores de futebol profissional não respeitam o árbitro e desconhecem as regras do esporte. É o que revela a pesquisa feita pelo professor Antônio Roberto Santos, do Departamento de Educação Física do Centro de Ciências da Saúde, denominada O Espírito Esportivo entre os Jogadores de Futebol.

Os atletas dos três maiores times de futebol do Estado foram questionados sobre que atitudes tomariam diante de situações simuladas de conflitos em relação ao árbitro, às regras, à igualdade de oportunidades e ao dopping. Ficou constatado que o fair play (em português, espírito esportivo) – o código de ética no esporte – precisa ser mais trabalhado entre os desportistas.

Sobre a relação com o árbitro, o estudo revelou que o desrespeito se dá, possivelmente, por causa da dificuldade que se tem em respeitar figuras de autoridade e os atletas transferem isso para o árbitro. “Como o atleta é o mesmo homem da sociedade, possivelmente ele agiria da mesma forma que age dentro das quatro linhas, em outros contextos sociais”, analisa Antônio Roberto.

Para o pesquisador, o fair play sofre uma forte influência da mídia. Comportamentos antidesportivos de jogadores famosos são imitados por outros atletas, na maioria jovens e adolescentes, que “se inspiram” em seus ídolos. Segundo Antônio Roberto Santos, a responsabilidade pelo espírito esportivo envolve não apenas atletas, árbitros ou dirigentes, mas também as torcidas e os meios de comunicação. “A mídia tem construído uma rivalidade agressiva. Notícias de jornal do tipo: ‘Domingo é a guerra entre Santa e Náutico’ estimulam o clima de guerra para o jogo. O que eles não conseguem perceber é que quando o ato de torcer transcende a racionalidade, na verdade se perde o espírito esportivo”, conclui.

MULHERES – Diante da suposição de a que as mulheres tinham a moral diferente do homem, surgiu a necessidade de estudar o espírito esportivo no futebol feminino. A pesquisa foi realizada no ano passado, com 40 jogadoras que disputaram o campeonato pernambucano de 2000 e os resultados mostram que o grupo feminino é praticamente igual ao masculino. Daí surge uma nova questão: Será que as mulheres não têm um senso de moral diferente ou elas incorporam os valores masculinos apenas no contexto do futebol (visto que é um esporte basicamente masculino)? O professor pretende estudar o comportamento das mulheres em outros esportes para tentar decifrar esse enigma.

Apoio psicológico pode melhorar rendimento de atletas

Os resultados da pesquisa do professor Antônio Roberto Santos, do Departamento de Psicologia do Esporte do Núcleo de Educação Física e Desportos, servem para comprovar a importância do psicólogo no meio esportivo e para que os psicólogos do esporte possam discutir com os jogadores sobre como comportamentos antidesportivos prejudicam a eles e ao desenvolvimento do jogo. “Sem fair play, o jogo não é possível, porque, se o jogo não estiver pautado em um código de ética, vira o caos. Aquela microssociedade do jogo vira uma sociedade primitiva. Então, o esporte só vai sobreviver juntamente com o espírito esportivo, não como algo ingênuo, mas com o respeito que se estabelece nas relações”, afirma.

Sobre a importância de um psicólogo do esporte para as equipes de futebol, o professor alerta: “Há uma mitificação do trabalho do psicólogo do esporte e deve-se ressaltar que ele não acaba com os resultados negativos se a deficiência do time for de ordem técnica. Antônio Roberto Santos ressalta que o psicólogo é importante não para melhorar o desempenho de um atleta, mas para ajudá-lo a aceitar os desempenhos ruins. Todavia, no contexto do esporte, não se admite um desempenho que não seja ótimo e as pessoas acabam se tornando descartáveis.

O trabalho do psicólogo é deixar claro que o mais importante não é o resultado, mas a pessoa. Isso porque é sabido que melhorando a pessoa, melhora-se o atleta e, conseqüentemente, melhoram os resultados. Porém, os conflitos com técnicos e dirigentes surgem exatamente pelo fato de a pessoa não ser colocada em primeiro plano, em detrimento do atleta. “Para um técnico, muitas vezes não interessa se o jogador está machucado ou se tem problemas familiares. Ele quer o seu atleta em campo e essa mentalidade ainda deve demorar a mudar”, conclui.