Falta fair
play no futebol estadual
Diante de situações
simuladas em que estavam em questão noções
de respeito às regras, ao árbitro e aos adversários,
muitos jogadores revelaram atitudes antidesportivas
Louisiana
Lima
Os jogadores de futebol profissional não respeitam o árbitro
e desconhecem as regras do esporte. É o que revela a pesquisa
feita pelo professor Antônio Roberto Santos, do Departamento
de Educação Física do Centro de Ciências
da Saúde, denominada O Espírito Esportivo entre
os Jogadores de Futebol.
Os atletas dos três maiores
times de futebol do Estado foram questionados sobre que atitudes
tomariam diante de situações simuladas de conflitos
em relação ao árbitro, às regras,
à igualdade de oportunidades e ao dopping. Ficou constatado
que o fair play (em português, espírito esportivo)
– o código de ética no esporte – precisa
ser mais trabalhado entre os desportistas.
Sobre a relação com
o árbitro, o estudo revelou que o desrespeito se dá,
possivelmente, por causa da dificuldade que se tem em respeitar
figuras de autoridade e os atletas transferem isso para o árbitro.
“Como o atleta é o mesmo homem da sociedade, possivelmente
ele agiria da mesma forma que age dentro das quatro linhas, em
outros contextos sociais”, analisa Antônio Roberto.
Para o pesquisador, o fair play sofre
uma forte influência da mídia. Comportamentos antidesportivos
de jogadores famosos são imitados por outros atletas, na
maioria jovens e adolescentes, que “se inspiram” em
seus ídolos. Segundo Antônio Roberto Santos, a responsabilidade
pelo espírito esportivo envolve não apenas atletas,
árbitros ou dirigentes, mas também as torcidas e
os meios de comunicação. “A mídia tem
construído uma rivalidade agressiva. Notícias de
jornal do tipo: ‘Domingo é a guerra entre Santa e
Náutico’ estimulam o clima de guerra para o jogo.
O que eles não conseguem perceber é que quando o
ato de torcer transcende a racionalidade, na verdade se perde
o espírito esportivo”, conclui.
MULHERES – Diante da suposição
de a que as mulheres tinham a moral diferente do homem, surgiu
a necessidade de estudar o espírito esportivo no futebol
feminino. A pesquisa foi realizada no ano passado, com 40 jogadoras
que disputaram o campeonato pernambucano de 2000 e os resultados
mostram que o grupo feminino é praticamente igual ao masculino.
Daí surge uma nova questão: Será que as mulheres
não têm um senso de moral diferente ou elas incorporam
os valores masculinos apenas no contexto do futebol (visto que
é um esporte basicamente masculino)? O professor pretende
estudar o comportamento das mulheres em outros esportes para tentar
decifrar esse enigma.
Apoio psicológico
pode melhorar rendimento de atletas
Os resultados da pesquisa do professor
Antônio Roberto Santos, do Departamento de Psicologia do
Esporte do Núcleo de Educação Física
e Desportos, servem para comprovar a importância do psicólogo
no meio esportivo e para que os psicólogos do esporte possam
discutir com os jogadores sobre como comportamentos antidesportivos
prejudicam a eles e ao desenvolvimento do jogo. “Sem fair
play, o jogo não é possível, porque, se o
jogo não estiver pautado em um código de ética,
vira o caos. Aquela microssociedade do jogo vira uma sociedade
primitiva. Então, o esporte só vai sobreviver juntamente
com o espírito esportivo, não como algo ingênuo,
mas com o respeito que se estabelece nas relações”,
afirma.
Sobre a importância de um psicólogo
do esporte para as equipes de futebol, o professor alerta: “Há
uma mitificação do trabalho do psicólogo
do esporte e deve-se ressaltar que ele não acaba com os
resultados negativos se a deficiência do time for de ordem
técnica. Antônio Roberto Santos ressalta que o psicólogo
é importante não para melhorar o desempenho de um
atleta, mas para ajudá-lo a aceitar os desempenhos ruins.
Todavia, no contexto do esporte, não se admite um desempenho
que não seja ótimo e as pessoas acabam se tornando
descartáveis.
O trabalho do psicólogo é
deixar claro que o mais importante não é o resultado,
mas a pessoa. Isso porque é sabido que melhorando a pessoa,
melhora-se o atleta e, conseqüentemente, melhoram os resultados.
Porém, os conflitos com técnicos e dirigentes surgem
exatamente pelo fato de a pessoa não ser colocada em primeiro
plano, em detrimento do atleta. “Para um técnico,
muitas vezes não interessa se o jogador está machucado
ou se tem problemas familiares. Ele quer o seu atleta em campo
e essa mentalidade ainda deve demorar a mudar”, conclui.
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