Ano VIII - Nº 103 - Agosto/2002











 
Jovens estréiam mobilidade estudantil

Alunos beneficiados pelo programa, inédito no País, vão cursar graduação nas universidades de Salamanca e Valladolid, na Espanha, a partir de seleção da Covest

Renata Reynaldo

É chegado o grande dia para os 106 estudantes que foram beneficiados com o Programa de Mobilidade Estudantil firmado entre a UFPE e as universidades estaduais espanholas de Salamanca e Valladolid. A grande maioria deles embarca a partir de hoje (27) para a Espanha onde, em 1º de outubro, vão iniciar seus cursos de graduação.

De acordo com esse programa, pioneiro no País, os estudantes que participaram do exame de vestibular para ingressar na Universidade Federal de Pernambuco neste ano puderam concorrer, também, a 235 vagas em cursos nessas universidades espanholas. O acordo pretendeu beneficiar, sobretudo, os “feras” que foram classificados no exame da Covest, mas que não obtiveram médias suficientes para garantir uma vaga nos cursos da UFPE.

Como o critério para ingressar no programa é a nota obtida no exame, os estudantes aprovados, aqueles que preencheram as vagas da UFPE, também puderam se habilitar. Nesse caso, eles tiveram que optar por uma ou outra instituição. E, em ambas as situações, o estudante arcará com todos os custos da iniciativa. As vantagens concretas do Programa de Mobilidade Estudantil consistem no fato de o estudante brasileiro pagar taxas iguais às dos alunos espanhóis para estudar lá, além da chance de ter o diploma reconhecido no Brasil. A UFPE está estudando os cursos, caso a caso, para verificar essa possibilidade.

A iniciativa foi brindada pelos reitores das três universidades envolvidas como um importante passo no intercâmbio internacional quanto aos cursos de graduação. O reitor de Salamanca, Ignácio Berdugo, quando esteve na UFPE, afirmou que “esse é um marco na vida acadêmica das duas instituições, sobretudo, porque a diversidade cultural que o acordo possibilita só vem a engrandecer o processo de ensino e aprendizagem.” Para Maria José Brezmes, vice-reitora da Universidade de Valldolid, esse acordo atende a uma demanda crescente na Europa. “Nós temos vagas ociosas e vocês têm bons estudantes querendo cursar a graduação na Europa. Não existe comunhão melhor de interesses do que essa”, atestou.

Para o reitor da UFPE, Mozart Neves, o Programa de Mobilidade Estudantil resulta da busca de a Federal estar à frente dos anseios da sociedade. “Hoje, mais do que nunca, temos que proporcionar aos estudantes oportunidades de intercâmbio, uma vez que os currículos das universidades são muito nivelados. O que diferencia o profissional que sai das bancas universitárias, agora, é o acervo de experiências concretas que ela leva consigo”, ilustra o reitor. Mozart Neves Ramos ainda ressalta que o fato de as universidades de Salamanca e Valladolid terem endossado o convênio traduz o reconhecimento do conceito da UFPE e do seu exame de seleção.

Um dos beneficiados pelo programa, o estudante Thiago Ferreira, 18 anos, vai cursar Engenharia Técnica em Informática e Gestão em Salamanca. Thiago, que tentou Engenharia da Computação na UFPE e não foi aprovado, se diz hoje privilegiado por ter tido essa nova chance de ingressar na universidade. “Estudar fora do País é um sonho que tenho desde pequeno. E essa oportunidade é importante porque nosso diploma será validado no Brasil”, afirma.

Os cursos oferecidos por Salamanca são os de Licenciatura em Física, Informática, Engenharia Química, Direito, Pedagogia, História, Medicina, Ciências Biológicas, Ciências Ambientais, Administração de Empresa e Economia. Já Valladolid disponibilizou vagas para os cursos de Bacharelado em Física, Informática, Engenharia de Produção, Publicidade e Propaganda, Administração de Empresas e Economia.

Acordo pode ser ampliado

Com base na experiência adquirida com esse primeiro Programa de Mobilidade Estudantil, a UFPE já pensa em dar passos mais largos para fortalecer o intercâmbio internacional. Uma das opções surgiu a partir da visita do reitor da Universidade de Tecnologia de Compiègne (UCT) – França –, François Peccoud, em junho passado. O reitor francês defendeu a necessidade de a UFPE e a sua instituição firmarem novos convênios de cooperação para atender às demandas de formação profissional que venham a suprir as lacunas do mercado de engenharia mecânica, desenvolvimento de softwares para indústrias automobilística e aeronáutica e designer industrial da França.

Durante conversa com o reitor da UFPE, Mozart Neves Ramos, François Peccoud também se mostrou interessado em repetir com a UCT o mesmo acordo que hoje a UFPE mantém com as universidades públicas de Salamanca e Valladolid, da Espanha. Peccoud salientou que a UCT tem como meta destinar 20% das suas vagas para estudantes estrangeiros, até 2005. Hoje, a instituição francesa tem 7% das suas vagas ocupadas por alunos de outros países. “E, atualmente, estamos também interessados em atrair alunos da América do Sul”, afirmou.

Indagado sobre a real possibilidade de firmar tais convênios com a UFPE, o reitor francês foi cauteloso: “O que não faltam são idéias. Precisamos de meios para realizá-las, pois a organização desse sistema requer muita organização”, afirmou.

Segundo a coordenadora da Cooperação Internacional da UFPE, Suzana Queiroz Monteiro, com essas iniciativas a UFPE vem se destacando no cenário nacional. “Outras grandes universidades públicas do País ainda não atinaram para a necessidade de investir no intercâmbio. Nós estamos muito à frente”, atesta.