Pesquisa identifica
alto índice de depressão entre médicos residentes
O percentual desses profissionais
que atuam nos hospitais da UFPE e da UPE e que se encontram em
estado de depressão é maior do que o verificado entre a população
em geral
Clécio
Vidal
Ao avaliar a freqüência de sintomas de depressão
entre médicos residentes e as fontes de tensão relacionadas
ao surgimento desses sintomas, a pesquisadora Taciana Ascendina,
do Departamento de Psicologia da UFPE, verificou que 18,7% dos
entrevistados têm suspeita de depressão. O índice
é superior à porcentagem de 15% encontrada em pesquisas
com a população em geral. O estudo, orientado pelo
professor e psiquiatra Everton Botelho, analisou as condições
emocionais de 150 médicos do Hospital das Clínicas
da UFPE e do Hospital Oswaldo Cruz, da UPE.
As principais fontes de tensão,
identificadas entre os residentes afetados pela depressão,
foram o contato com os pacientes (25,9%), a comunicação
de notícias dolorosas como anúncio de morte ou de
doenças graves (22%) e o convívio com pacientes
em estado terminal (21%). “Em nossa investigação,
o índice de suspeitos de depressão cresceu de 12,9%
para 25,4%, ao analisarmos médicos do primeiro e do segundo
ano de residência. Essa informação contraria
registros anteriores que afirmam uma tendência a normalização
dos estados emocionais, após o primeiro ano de residência”,
revela a psicóloga.
De acordo com Taciana Ascendina,
a sobrecarga de trabalho diário dos residentes afetados
pela depressão é significativamente maior. “Enquanto
os não-afetados trabalham dez horas por dia, em média,
os afetados trabalham 12 horas.”
A análise foi realizada com
base na coleta de dados sociobiodemográficos (sexo, idade
e número de filhos) e de informações obtidas
ao se aplicar a versão de um questionário, desenvolvido
por pesquisadores de Londres, utilizando a Escala de Hamilton.
Esse questionário, que pode ser auto-aplicado, possui 18
itens referentes a sintomas de humor – como ansiedade, irritação
ou indiferença afetiva – e sintomas físicos
como perda acentuada de peso, diminuição da libido,
insônia e hipersônia (excesso de sono).
A marcação de cada
um destes tópicos correspondeu a uma pontuação.
Uma soma de pontos superior a dez confirmava a suspeita de depressão.
Outras variáveis presentes no questionário disseram
respeito a fatores cognitivos como idéias de suicídio,
além daqueles relativos ao rendimento das atividades, a
exemplo da dificuldade de concentração e da diminuição
da memória.
Depressão
pode levar ao consumo de drogas
A pesquisadora Taciana Ascendina,
autora do estudo sobre depressão entre os médicos
residentes, ressalta como principal importância da pesquisa
o alerta para a existência de transtornos psiquiátricos
entre os médicos. “Pesquisas realizadas em universos
mais abrangentes apontam uma taxa de 50% de residentes com distúrbios
emocionais, sendo 28% deles atingidos pela depressão. Esses
problemas podem levar ao abuso de álcool e de outros tipos
de drogas”, afirma Taciana Ascendina.
A psicóloga chama a atenção
para o preconceito que ronda o senso comum a respeito da depressão.
“Existe uma idéia de que ‘depressão’
conota fracasso ou inaptidão, o que leva o médico
a negar que está deprimido, tratando sintomas como o cansaço,
a insônia e a perda de apetite, sem considerar, minimamente,
a possibilidade de estarem deprimidos. A situação
se agrava porque os médicos, muitas vezes, se acham inatingíveis”,
alerta. Segundo ela, a depressão é uma doença
como outra qualquer e pode atingir qualquer pessoa. Aliás,
atesta a pesquisadora, a tendência é de que o índice
de depressivos cresça consideravelmente. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) prevê que a depressão
será a segunda moléstia de maior incidência,
perdendo somente para os problemas cardíacos.
Algumas medidas preventivas da depressão,
na opinião da pesquisadora, podem ser a flexibilização
dos plantões, com 36 horas e 12 horas de descanso, acompanhamento
durante a mudança de especialidades no período da
residência e a conscientização para os riscos
que envolvem a atividade médica.
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