Discurso da
Igreja Universal assimila os valores de mercado
Estudo analisou discursos publicados
no jornal da Igreja Universal do Reino de Deus e textos produzidos
por bispos da cúpula da instituição
Clécio
Vidal
O sociólogo Kleber Fernando Rodrigues analisou, na dissertação
“Vida e Vida com abundância”: teologia da prosperidade,
sagrado e mercado, como o discurso da Igreja Universal do Reino
de Deus assimila valores de mercado, a exemplo da busca pela ascensão
social e o estímulo ao consumo. A pesquisa, realizada no
Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
UFPE, com base em depoimentos de fiéis e de bispos veiculados
no jornal Folha Universal - pertencente à Igreja Universal
-, em livros produzidos por Edir Macedo, além da observação
em cultos.
De acordo com o pesquisador, o discurso
iurdiano (relativo à Igreja Universal) se baseia na idéia
de que usufruir os bens de consumo oferecidos pela sociedade capitalista
é um sinal da operosidade de Deus na vida do converso iurdiano,
idéia que constitui a teologia da prosperidade. Nesse contexto,
a fé em Deus é valorizada como meio de obter saúde,
riqueza, sucesso e poder terreno.
Na interpretação que
a Igreja Universal faz da relação entre Deus e os
fiéis, o sacrifício ganha um tom utilitário.
O dever religioso de dar o dízimo é resultado da
certeza do fiel de que Deus deverá retribuir com prosperidade.
O ofertante passa a se sentir no direito de exigir o que Ele prometeu.
“Edir Macedo, por exemplo, afirma em seus discursos que
o fiel deve exigir de Deus, em suas preces, a prosperidade como
um direito do cristão, filho de Deus e co-herdeiro de Jesus:
dono por herança, de todas as coisas que existem na face
da terra”, explica o sociólogo. O professor diz que
são comuns pronunciamentos de pastores do tipo: “Eu
determino, Senhor, que a minha vida seja uma vida vitoriosa, uma
vida abundante”, ou “Revolte-se com Jesus e exija
que Deus o abençoe com uma vida de prosperidade”.
“O imaginário de Cristo
contido no discurso iurdiano não é de alguém
pobre, mas de um príncipe, filho do grande Rei, dono do
ouro e da prata”, completa. Kleber Rodrigues lembra que,
entre os católicos, o sacrifício é simbolizado
por penitências, caridade e obras; entre os protestantes
históricos e pentecostais é representado por ofertas,
dízimos e jejuns, entre outros, diferenciando-se, em parte,
dos pós-pentecostais da IURD. “O sacrifício,
neste caso, sinaliza a submissão do servo diante da autoridade
de um Ser Infinito, sem limites e inatingível”, afirma.
A ênfase no ser próspero
é verificada até mesmo no modo como são denominados
os cultos. “Que recebem nomes como corrente da prosperidade,
corrente da vida regalada, corrente das almas aflitas ou simplesmente
culto dos empresários”, conta.
O pesquisador afirma que a diversidade
de cultos iurdianos, denominada por ele messianismo polissêmico
é responsável pelo número crescente de fiéis.“A
Universal existe há 25 anos e já tem dois milhões
de fiéis, enquanto as outras igrejas protestantes reformadas
estão aqui há 150 anos e somam cerca de 4 milhões
de membros”, contabiliza.
Preleção
adotada pelos iurdianos crê que a vinda de Cristo é
iminente
O pós-milenarismo é
a versão escatológica (relativa ao final dos tempos)
adotada pelo discurso iurdiano. Segundo esta idéia, o reino
de Cristo já existe e gradativamente se expande por meio
da pregação do Evangelho.
Após o sofrimento pelo qual
os homens passaram, o teste da fé que Deus aplicou a seus
servos (período chamado pelos protestantes de dispensação),
haveria um período de mil anos em que o cristianismo prevaleceria
na Terra. Nesse período, Satanás será preso.
Seguido ao milênio, vai acontecer violento surto de maldade
e um terrível conflito entre Cristo e o Diabo. Nesse momento,
Cristo voltará, trazendo a ressurreição de
todos os mortos e o julgamento final .
Os integrantes da Universal acreditam
que a era de mil anos anterior à volta de Cristo - a qual
a humanidade estaria vivendo - é uma época de progresso
humano, social, econômico e científico. Daí
parte a identificação do capitalismo atual com esse
período. “Por conseqüência, incentiva-se
a procura da virtude na satisfação do desejo de
consumo, uma espécie de ascese intramundana, termo cunhado
por Max Weber”, explica o pesquisador.
Dessa forma, a fundamentação
dos discursos deixa de ser a espera do advento ou retorno imediato
de Cristo. A preparação espiritual do crente para
usufruir as bênçãos após a morte é
substituída por um novo paradigma da fé. “Ao
invés da afirmação de que Cristo Salva, Cura,
Batiza com o Espírito Santo e Voltará (a crença
no advento), os iurdianos declaram que Cristo Salva, Cura, Batiza
e ‘Liberta (pregação de Edir Macedo)”,
diz.
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