Ano VIII - Nº 110 - Março-Abril/2003










 

Lixo doméstico é o maior vilão das praias do litoral sul

A quantidade de lixo nas praias é um problema que incomoda veranistas por todo o Brasil e, em Pernambuco, não é diferente. O litoral sul do Estado foi escolhido para ser objeto da dissertação de mestrado em Oceanografia de Maria Christina de Araújo, que procurou identificar as origens e conseqüências do lixo derivado do petróleo, como plásticos, espumas e isopor, encontrado na areia das praias de Carneiros, Campas, Tamandaré e Várzea do Una. “Antes de começar a pesquisa, imaginávamos que a maior parte do lixo vinha dos turistas, principalmente de Tamandaré. Quando foi visto que a praia de Várzea do Una, que é freqüentada apenas por pescadores da região, tinha a mesma quantidade de resíduos que as outras, concluímos que o lixo teria que ser doméstico”, explica a professora Mônica Costa, orientadora da pesquisa.

As suspeitas da professora Mônica e de Christina foram confirmadas durante o trabalho de campo, quando foi constatado que mais de 70% do lixo das praias vêm dos núcleos urbanos, principalmente através do rio Una. “É importante notar que esse lixo não é apenas domiciliar, mas também comercial e até hospitalar”, aponta Maria Christina. Os resíduos que são descartados por hospitais, farmácias e clínicas são, justamente, os mais perigosos, tanto para os banhistas quanto para os animais marinhos.

Foram encontradas grandes quantidades de seringas hipodérmicas, recipientes de soro e frascos de remédio ainda cheios ou pela metade. Os danos para a fauna não foram verificados pelo trabalho, mas a literatura especializada mostra exemplos de animais que ficam presos em redes de pesca abandonadas, que engolem sacos plásticos e morrem sufocados ou por inanição, e até peixes que entram em garrafas e não conseguem mais sair.

A dissertação também verificou que o litoral de Tamandaré apresenta um serviço de limpeza público na praia, mas que acaba sendo apenas uma medida paliativa, já que não consegue dar conta do lixo que vem dos outros municípios. A coleta é mais eficiente na parte central da cidade, mas nos extremos, que são menos freqüentados pelos banhistas, a limpeza é irregular. Agora que a pesquisa está concluída, o próximo passo é transformá-la em um relatório e entregá-lo aos municípios interessados. “A prefeitura de Tamandaré está ciente, já que fizemos uma apresentação prévia às autoridades. Podemos sugerir algumas soluções técnicas, mas a ação deve partir deles”, finaliza Maria Christina.