Ano VIII - Nº 110 - Março-Abril/2003












 

Criação de camarão gera emprego em quantidade recorde na região

Estudo voltado para as atividades agrícolas no Nordeste revela que a criação de camarões é a atividade que mais gera emprego. Este ano o setor vai absorver mais de 56 mil pessoas

Anderson Lima

Além de ser uma iguaria de sabor apreciável, a cultura do camarão agrega em si algumas particularidades surpreendentes. Uma delas é a geração de empregos em larga escala: “A atividade é um tremendo sucesso”, afirma o professor do Departamento de Economia e vice-reitor substituto da Universidade, Yony de Sá Barreto Sampaio. Ele é um dos responsáveis, junto com o professor Ecio Costa, do Departamento de Economia, pela pesquisa Geração de Empregos Diretos e Indiretos na Carcinicultura Brasileira, realizada nas principais áreas de geração do crustáceo no Nordeste, de Pernambuco até o norte do Ceará.

De acordo com o estudo, a carnicicultura criou em 2001, 31.875 empregos diretos e indiretos. Para este ano, são estimadas em torno de 56.250 pessoas empregadas no ramo.

“Nenhuma atividade agrícola gera tantos empregos quanto a criação de camarão”, revela o professor Yony. O trabalho chega a ser mais produtivo que a agricultura irrigável, uma das atividades de mão-de-obra mais intensa no setor. Enquanto a produção dos crustáceos gera 1,89 empregos diretos, o setor irrigável emprega apenas uma pessoa por hectare.

Quanto ao emprego indireto, os números apontam 1,86 pessoas empregadas por hectare, o que, somando tudo, nos dá um resultado de 3,75 empregos diretos e indiretos por hectare na produção do camarão. Para se ter uma idéia, a fruticultura irrigada gera 2,14 empregos diretos e indiretos por hectare.

Outra particularidade ligada à produção do camarão é o uso de pessoas de baixa escolaridade. “O fato de não requerer uma educação formal é que garante à população local um emprego com uma remuneração adequada, sem precisar se deslocar do local de residência”, explica Yony Sampaio. Nas fazendas de engorda, 88,19% dos empregados têm apenas a educação elementar, e nos laboratórios de pós-larvas e centros de processamento, esse grupo responde por 90,10%. E como a criação dos crustáceos é uma atividade contínua, a maioria dos empregos é permanente: 100% nos laboratórios e centros de processamento e 83,73% nas fazendas de engorda.

Para chegar a esses resultados, os pesquisadores aplicaram questionários nos centros de processamento, fazendas de engorda e laboratórios de produção de larvas.

Também foram pesquisados os insumos, os equipamentos e os demais fatores envolvidos na atividade para o cálculo dos empregos diretos e indiretos. A pesquisa foi iniciada em agosto do ano passado, tendo sido concluída em janeiro último.

93% da produção do País é do NE

A criação de camarão no Brasil é uma atividade recente, com menos de dez anos, e se divide em três elos principais: os laboratórios, onde são criadas as chamadas pós-larvas, que serão vendidas às fazendas de engorda (segundo elo), em que os crustáceos passam por um período de engorda até atingirem o tamanho ideal de venda. Já o terceiro envolve os centros de processamento do produto, onde o camarão é preparado para ser consumido no Brasil ou no exterior. Da produção regional, 60% são exportados, o que garante ao Nordeste o 2o lugar na fonte de divisas do setor agropecuário. A região responde ainda por 93% da produção de camarão do País.

E, apesar de bons, os resultados obtidos ainda poderiam ser melhorados. De acordo com o professor Ecio Costa, a geração de emprego seria maior se fosse agregado valor ao camarão, uma vez que existem 30 tipos diferentes de produtos que podem ser obtidos com o beneficiamento do crustáceo. “Quando você exportar o produto beneficiado, não estará exportando empregos. Você vai estar gerando os empregos aqui”, finaliza.