De portas abertas para o mundo
Às vésperas de entrar para o último ano de
gestão, o reitor Mozart Neves Ramos avalia que o salto
da UFPE para a internacionalização foi o maior ganho
desses últimos 12 meses, mas reconhece que ainda há
muito que fazer. Dentre as prioridades para o próximo ano
está a reformulação do estatuto da Universidade.
Renata Reynaldo
Que iniciativas o sr. apontaria
como de maior relevância para a instituição
nesse último ano?
O que podemos destacar como mais importante para a UFPE neste
ano foi a estruturação de uma política de
cooperação internacional. Nós crescemos muito
como instituição com os convênios, parcerias
de intercâmbio e programas de mobilidade estudantil - como
os firmados mais recentemente com as universidades espanholas
de Salamanca e Valladolid e com a universidade francesa de Compiègne.
Ainda avançamos nesse sentido com a vinda de estudantes
estrangeiros para nosso campus. Optamos por essa estratégia
a partir das avaliações internacionais as quais
submetemos a Universidade ainda na primeira etapa da minha gestão,
mas foi nesses últimos 12 meses que vivenciamos na comunidade
acadêmica os grandes saltos nesse sentido. E vimos hoje
que nosso investimento rumo à internacionalização
da UFPE obteve o reconhecimento da Comunidade Européia,
que, inclusive, nos credenciou como ponto focal do Programa Alban,
um programa de bolsas de alto nível para a América
Latina.
Por que o sr. elegeu o intercâmbio
internacional como uma das prioridades desse ano de gestão?
Porque esse é um grande desafio das universidades.Tratar
da internacionalização do ensino é adequar
a instituição aos novos modelos de sociedade, pois
a dinâmica do conhecimento exige mecanismos mais flexíveis
de formação profissional. Com as novas demandas
do conhecimento, o ambiente do aprendizado parece ser um fator
importante para a profissionalização. Entendemos
que ambientes diferentes levam os estudantes a atitudes diferentes
e, portanto, a buscar diferentes alternativas de solucionar problemas
da sociedade.
Que efeitos práticos essa
opção de investir na internacionalização
do ensino pode trazer para a vida acadêmica da UFPE?
Hoje temos a certeza que é mais fácil mudar e dinamizar
a instituição de ensino superior a partir das ofertas
de experiências dessa natureza aos alunos do que tentar
mudar a cultura e hábitos muitas vezes já enraizados
na cabeça dos nossos professores. Os estudantes são
mais receptíveis aos novos conceitos e adequação
à dinâmica da realidade. E essas novas experiências,
quando os alunos retornam ao campus de origem, se revertem em
experiência para a Universidade. Outro reflexo positivo
dessa atitude que adotamos é o número de convênios
internacionais (aproximadamente 80) que já firmamos. Esses
convênios, aliás, só são possíveis
a partir de uma relação de confiança e de
amizade que mantemos com nossos parceiros. A confiança,
que advém da qualidade da nossa instituição,
gera o reconhecimento e a amizade atua como catalisador dos processos
e tramitações desses convênios. Um exemplo
bom para ilustrar esses efeitos positivos é o nosso curso
de Engenharia Biomédica, o primeiro do País, que
só foi possível graças a uma parceria da
UFPE com a Universidade de Compiègne, na França.
Além da graduação, a pós-graduação
também tem a ganhar com a internacionalização
uma vez que o conceito conferido pela Capes aos cursos de pós
está relacionado aos vínculos de cooperação
internacional que os cursos mantém.
Quais os critérios para
aplicação de recursos na UFPE a fim de atender às
demandas do tripé acadêmico Ensino/Pesquisa/Extensão?
Pela primeira vez, a UFPE promoveu uma discussão descentralizada
para elaborar o Orçamento Institucional. Esse foi o nosso
critério. Contamos com o aval da comunidade acadêmica
para definir a aplicação dos recursos, pois a proposta
orçamentária foi submetida à apreciação
de diretores de centros e chefes de departamento, que opinaram
sobre as prioridades de investimento em cada uma das suas áreas.
A um ano de terminar o seu mandato
- que foi renovado há três anos - o que falta o sr.
fazer para cumprir as metas de sua gestão?
Sempre vai faltar alguma coisa, até pela própria
natureza dinâmica da nossa atividade. Mas pretendo promover
no próximo ano uma ampla discussão sobre o novo
estatuto da Universidade, cuja proposta já se encontra
no campus. Farei isso no segundo semestre, após a eleição
do próximo reitor, para que não haja risco de confusão
entre os interesses da instituição e aqueles de
cunho eleitoral. Vale salientar que, embora o estatuto pareça
estar estagnado, a nossa gestão vem inovando com a elaboração
do Plano Plurianual de Ação (PPA), que é
uma ferramenta de planejamento de médio e curto prazos
que pretendemos ver replicada nas demais instâncias da administração.
Temos ainda o compromisso de deixar pronto o Planejamento Estratégico
da Instituição (PEI), este de caráter mais
perene, com metas de longo prazo. Essas iniciativas, aliás,
vêm a reforçar o nosso compromisso de profissionalizar
a UFPE e aproximá-la dos modelos modernos de gestão.
Como o sr. vai conduzir o processo
sucessório na UFPE. A reitoria tem candidato?
Espero conduzir esse processo de maneira a consolidar o caráter
democrático da nossa gestão, que vem sendo marcada
por atitudes de respeito às manifestações
da maioria. Buscarei ser um juiz neutro e pretendo dar início
às discussões a partir de março, em respeito
à instituição, para que o debate eleitoral
não imobilize a máquina. Vou ouvir a comunidade,
mas é importante ressaltar que ninguém é
candidato de si próprio. E, quanto à questão
sobre o candidato da reitoria, adianto que não assumi compromisso
de apoiar um ou outro dos meus auxiliares. Para contar com meu
apoio o candidato tem que ter o respaldo da comunidade acadêmica.
Este ano também foi marcado
pelo atraso no repasse de recursos por parte do Governo Federal.
Que prejuízos esse problema acarretou às universidades?
Este foi o pior ano em relação à gestão
financeira das universidades federais. Primeiro pela sucessão
de medidas provisórias e decretos que quebraram a continuidade
do repasse dos recursos engessando o desenvolvimento da instituição.
Houve o contingenciamento dos recursos para custeio básico
- o que nunca havia ocorrido - e o bloqueio de recursos próprios.
Esses contratempos exigiram de minha parte, como presidente da
Associação Nacional de Dirigentes de Instituições
Federais de Ensino Superior, um esforço grande para que
ao final do ano tivéssemos todos os recursos e emendas
liberadas.
Qual a expectativa das universidades
federais em relação ao próximo governo no
que diz respeito ao ensino superior?
São as melhores possíveis. Esperamos que se construa
uma agenda positiva para o desenvolvimento das instituições
a partir de um diálogo verdadeiramente de mão dupla,
o que não houve com o atual governo. A esperança
é que a gente possa elaborar um protocolo de cooperação
que inclua a expansão do sistema das instituições
federais de ensino superior, verificando-se, assim, uma política
de reposição de pessoal, de maneira a garantir o
desenvolvimento das instituições.Todavia, um dever
de casa inadiável é a discussão de uma Lei
Orgânica para as universidades brasileiras, com vistas à
autonomia dessas instituições.
Avanços
de 2002
60 novas bolsas disponibilizadas
para alunos e professores que atuam em atividades de extensão;
R$ 4 milhões investidos na
reforma de laboratórios, bibliotecas, departamentos, teatro
e salas de aula, entre outros;
R$ 6,2 milhões aplicados
em novos equipamentos;
No HC, reformas nos blocos de obstetrícia
cirúrgica, colposcopia e puericultura, além da construção
da brinquedoteca;
Em 2002, registradas oito primeiras
patentes de produtos desenvolvidos na UFPE;
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