Ano VIII - Nº 107 - Dezembro/2002













 

De portas abertas para o mundo

Às vésperas de entrar para o último ano de gestão, o reitor Mozart Neves Ramos avalia que o salto da UFPE para a internacionalização foi o maior ganho desses últimos 12 meses, mas reconhece que ainda há muito que fazer. Dentre as prioridades para o próximo ano está a reformulação do estatuto da Universidade.

Renata Reynaldo

Que iniciativas o sr. apontaria como de maior relevância para a instituição nesse último ano?
O que podemos destacar como mais importante para a UFPE neste ano foi a estruturação de uma política de cooperação internacional. Nós crescemos muito como instituição com os convênios, parcerias de intercâmbio e programas de mobilidade estudantil - como os firmados mais recentemente com as universidades espanholas de Salamanca e Valladolid e com a universidade francesa de Compiègne. Ainda avançamos nesse sentido com a vinda de estudantes estrangeiros para nosso campus. Optamos por essa estratégia a partir das avaliações internacionais as quais submetemos a Universidade ainda na primeira etapa da minha gestão, mas foi nesses últimos 12 meses que vivenciamos na comunidade acadêmica os grandes saltos nesse sentido. E vimos hoje que nosso investimento rumo à internacionalização da UFPE obteve o reconhecimento da Comunidade Européia, que, inclusive, nos credenciou como ponto focal do Programa Alban, um programa de bolsas de alto nível para a América Latina.

Por que o sr. elegeu o intercâmbio internacional como uma das prioridades desse ano de gestão?
Porque esse é um grande desafio das universidades.Tratar da internacionalização do ensino é adequar a instituição aos novos modelos de sociedade, pois a dinâmica do conhecimento exige mecanismos mais flexíveis de formação profissional. Com as novas demandas do conhecimento, o ambiente do aprendizado parece ser um fator importante para a profissionalização. Entendemos que ambientes diferentes levam os estudantes a atitudes diferentes e, portanto, a buscar diferentes alternativas de solucionar problemas da sociedade.

Que efeitos práticos essa opção de investir na internacionalização do ensino pode trazer para a vida acadêmica da UFPE?
Hoje temos a certeza que é mais fácil mudar e dinamizar a instituição de ensino superior a partir das ofertas de experiências dessa natureza aos alunos do que tentar mudar a cultura e hábitos muitas vezes já enraizados na cabeça dos nossos professores. Os estudantes são mais receptíveis aos novos conceitos e adequação à dinâmica da realidade. E essas novas experiências, quando os alunos retornam ao campus de origem, se revertem em experiência para a Universidade. Outro reflexo positivo dessa atitude que adotamos é o número de convênios internacionais (aproximadamente 80) que já firmamos. Esses convênios, aliás, só são possíveis a partir de uma relação de confiança e de amizade que mantemos com nossos parceiros. A confiança, que advém da qualidade da nossa instituição, gera o reconhecimento e a amizade atua como catalisador dos processos e tramitações desses convênios. Um exemplo bom para ilustrar esses efeitos positivos é o nosso curso de Engenharia Biomédica, o primeiro do País, que só foi possível graças a uma parceria da UFPE com a Universidade de Compiègne, na França. Além da graduação, a pós-graduação também tem a ganhar com a internacionalização uma vez que o conceito conferido pela Capes aos cursos de pós está relacionado aos vínculos de cooperação internacional que os cursos mantém.

Quais os critérios para aplicação de recursos na UFPE a fim de atender às demandas do tripé acadêmico Ensino/Pesquisa/Extensão?
Pela primeira vez, a UFPE promoveu uma discussão descentralizada para elaborar o Orçamento Institucional. Esse foi o nosso critério. Contamos com o aval da comunidade acadêmica para definir a aplicação dos recursos, pois a proposta orçamentária foi submetida à apreciação de diretores de centros e chefes de departamento, que opinaram sobre as prioridades de investimento em cada uma das suas áreas.

A um ano de terminar o seu mandato - que foi renovado há três anos - o que falta o sr. fazer para cumprir as metas de sua gestão?
Sempre vai faltar alguma coisa, até pela própria natureza dinâmica da nossa atividade. Mas pretendo promover no próximo ano uma ampla discussão sobre o novo estatuto da Universidade, cuja proposta já se encontra no campus. Farei isso no segundo semestre, após a eleição do próximo reitor, para que não haja risco de confusão entre os interesses da instituição e aqueles de cunho eleitoral. Vale salientar que, embora o estatuto pareça estar estagnado, a nossa gestão vem inovando com a elaboração do Plano Plurianual de Ação (PPA), que é uma ferramenta de planejamento de médio e curto prazos que pretendemos ver replicada nas demais instâncias da administração. Temos ainda o compromisso de deixar pronto o Planejamento Estratégico da Instituição (PEI), este de caráter mais perene, com metas de longo prazo. Essas iniciativas, aliás, vêm a reforçar o nosso compromisso de profissionalizar a UFPE e aproximá-la dos modelos modernos de gestão.

Como o sr. vai conduzir o processo sucessório na UFPE. A reitoria tem candidato?
Espero conduzir esse processo de maneira a consolidar o caráter democrático da nossa gestão, que vem sendo marcada por atitudes de respeito às manifestações da maioria. Buscarei ser um juiz neutro e pretendo dar início às discussões a partir de março, em respeito à instituição, para que o debate eleitoral não imobilize a máquina. Vou ouvir a comunidade, mas é importante ressaltar que ninguém é candidato de si próprio. E, quanto à questão sobre o candidato da reitoria, adianto que não assumi compromisso de apoiar um ou outro dos meus auxiliares. Para contar com meu apoio o candidato tem que ter o respaldo da comunidade acadêmica.

Este ano também foi marcado pelo atraso no repasse de recursos por parte do Governo Federal. Que prejuízos esse problema acarretou às universidades?
Este foi o pior ano em relação à gestão financeira das universidades federais. Primeiro pela sucessão de medidas provisórias e decretos que quebraram a continuidade do repasse dos recursos engessando o desenvolvimento da instituição. Houve o contingenciamento dos recursos para custeio básico - o que nunca havia ocorrido - e o bloqueio de recursos próprios. Esses contratempos exigiram de minha parte, como presidente da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior, um esforço grande para que ao final do ano tivéssemos todos os recursos e emendas liberadas.

Qual a expectativa das universidades federais em relação ao próximo governo no que diz respeito ao ensino superior?
São as melhores possíveis. Esperamos que se construa uma agenda positiva para o desenvolvimento das instituições a partir de um diálogo verdadeiramente de mão dupla, o que não houve com o atual governo. A esperança é que a gente possa elaborar um protocolo de cooperação que inclua a expansão do sistema das instituições federais de ensino superior, verificando-se, assim, uma política de reposição de pessoal, de maneira a garantir o desenvolvimento das instituições.Todavia, um dever de casa inadiável é a discussão de uma Lei Orgânica para as universidades brasileiras, com vistas à autonomia dessas instituições.

Avanços de 2002

60 novas bolsas disponibilizadas para alunos e professores que atuam em atividades de extensão;

R$ 4 milhões investidos na reforma de laboratórios, bibliotecas, departamentos, teatro e salas de aula, entre outros;

R$ 6,2 milhões aplicados em novos equipamentos;

No HC, reformas nos blocos de obstetrícia cirúrgica, colposcopia e puericultura, além da construção da brinquedoteca;

Em 2002, registradas oito primeiras patentes de produtos desenvolvidos na UFPE;